domingo, 18 de novembro de 2012

The Guardian

"Surpreendente... um livro sobre a perigosa distância que existe entre o que sentimos e o que estamos de fato preparados para admitir em relação à vida em família. 
A sátira de Shriver sobre famílias centradas em crianças e capitaneadas por adultos bufões cuja vida intelectual, para não citar a vida erótica, está em pedaços não poderia ser mais oportuna."
Edição especial de Precisamos falar sobre o Kevin, romance de Lionel Shriver vencedor do Prêmio Orange em 2005, com capa inspirada no filme dirigido por Lynne Ramsay, com Ezra Miller no papel Kevin, John C. Reilly como seu pai, Franklin, e Tilda Swinton como Eva Khatchadourian, interpretação que lhe rendeu a indicação ao Globo de Ouro e ao Bafta de melhor atriz.
Em Precisamos falar sobre o Kevin, Lionel Shriver realiza uma espécie de genealogia do assassínio ao criar na ficção uma chacina similar a tantas provocadas por jovens em escolas americanas.
Aos 15 anos, o personagem Kevin mata 11 pessoas, entre colegas no colégio e familiares. Enquanto ele cumpre pena, a mãe Eva amarga a monstruosidade do filho. Entre culpa e solidão, ela apenas sobrevive. A vida normal se esvai no escândalo, no pagamento dos advogados, nos olhares sociais tortos.


Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem.
Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o "sociopata inatingível" que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.

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