quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Canalha!, livro de crônicas do escritor gaúcho Fabrício Carpinejar, é uma provocação desde o título.
 
Um ato corajoso e irreverente contra os rótulos masculinos. Uma leitura divertida do homem contemporâneo, perplexo e desorientado com as transformações de comportamento e a dissolução dos papéis fixos familiares. O autor mostra que o canalha mantém o charme sexual, mas não é mais o mesmo apregoado pelo Nelson Rodrigues e tantos escritores da metade do século XX.
"Aquele cafajeste de outrora mudou, não é mais o tipo machista e intolerante. Esqueça os personagens de Jece Valadão",

afirma Carpinejar. "Há outro canalha mais perigoso em ação, uma mutação cultural: um canalha caseiro, que não tolera preconceito (aceita ser confundido com gay e entende o chamado como um elogio), que vai fundo no sofrimento para não repeti-lo, gentil dentro das expressões, que ama demasiado os filhos, que se veste com estilo, mas não se importa com o que os outros vão pensar, que encontra a autocrítica no humor, que se aproxima de uma mulher para roubar sua alma (porque o corpo é muito influenciável)."



São crônicas que respeitam sua natureza original de conversa, amáveis e despretensiosas. Para serem saboreadas tanto no café-da-manhã, ao lado de uma boa xícara com leite quente e farelos de pão, ou numa mesa romântica, com a toalha manchada de vinho. E por que não numa leitura a dois na cama, atuando como preliminares?
As verdades mais fortes acabam ditas com delicadeza. Textos leves, chamando o leitor para cada vez mais perto. Uma nova percepção do cotidiano, admitindo as imperfeições e as gafes, sem medo de viver para evitar sofrimentos.
"Não crie arrependimentos por aquilo que não foi feito. Sejamos mais reais em nossas dores", propõe na crônica "Insista". Puro carisma de um autor, que mede o mundo com as palavras e os gestos, disposto a se abrir e emoldurar as lembranças com suas histórias.
Carpinejar cria uma espécie de contraponto viril de sua coletânea de sucesso, O amor esquece de começar (2006). Defende a "alma masculina" como sinônimo de sensibilidade. Analisa as relações amorosas, homenageia a amizade dos detalhes e as preciosidades da rotina, desfaz tabus sociais. É capaz de provar a gravidez masculina, onde o homem não contará para a amada que aguarda seu filho no ventre, ou de destacar o cuidado dos velhos pais com seus filhos adultos, preservando o quarto deles exatamente como deixaram ao saírem de casa.
O texto de orelha é assinado por Xico Sá: "Entre uma canalhice explícita e um inocente ‘Ivo viu a uva’, Carpinejar, o cronista, o poeta, o fabulador, o mito, o homem, o álbum branco dos Beatles, nos enfeitiça, desgraçado bom de lábia, de escrita e de jabs. Parece golpe baixo, mas o cara é capaz de observar o origami da pressa que foi feito, pela mulher, com o papelão cortado do biquinho da caixa de leite, donde sugere um peito platônico ou quase, pelo menos para os tarados de plantão terá sido mais ou menos isso, por supuesto".
Textos como "O fim é lindo", "Sexo depois dos filhos", "Emprestando roupas ao marido", "Amor é coisa de boteco", "É adorável uma mulher toda nua, ou quase, de meias brancas", "O orgasmo feminino e o quindim" e "Procura-se um brinco", entre muitos outros, fazem de Canalha! um livro para homens e mulheres - casados ou solteiros, lobos ou cordeiros.
Diferente dos dicionários e muito além do significado dos vocábulos, Carpinejar capta o sentimento da pronúncia.



Fabrício Carpinejar, 35 anos, nasceu em Caxias do Sul (RS). Escritor, jornalista e professor, publicou poesia, literatura infantil e crônicas.
Foi premiado com o Érico Veríssimo 2006, pelo conjunto da obra, da Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre, com o Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras, entre outros.
Atua como coordenador do curso de Formação de Escritores e Agentes Literários, e professor do Curso de Formação de Músicos e Produtores de Rock, ambos da Unisinos (RS).
Desde outubro de 2005 mantém o blog Consultório Poético, em que responde a dúvidas amorosas dos leitores. Colabora com diversos jornais e revistas, e assina a coluna "Primeiras intenções", da revista Crescer.
Pela Bertrand Brasil, publicou As solas do sol, Cinco Marias, Como no céu / Livro de visitas, O amor esquece de começar, Meu filho, minha filha e Um terno de pássaros ao sul.
                                                  

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