quarta-feira, 16 de julho de 2014

Existiu no meio do horror do campo de concentração e tinha apenas oito livros, que serviram de janela para o mundo a um grupo de crianças que ali estava.

Livro revela história da biblioteca de Auschwitz
Muitas histórias do horror e sofrimento testemunhados dentro dos campos de concentração nazistas são contadas e recontadas, já estão gravadas e arquivadas. É difícil, nesses relatos, encontrar atos de esperança e força diante de todo o mal registrado durante o Holocausto. "A Bibliotecária de Auschwitz" é um livro diferente. É uma história verdadeira e cheia de detalhes a respeito de um professor judeu, Fredy Hirsh, que criou uma escola secreta dentro do bloco 31, no campo de concentração de Auschwitz, dedicando-se a lecionar para cerca de 500 crianças. Criou também uma biblioteca de poucos volumes com a ajuda de Dita Dorachova, uma menina judia de 14 anos que se arriscava para manter viva a esperança trazida pelo conhecimento e escondia os livros embaixo do vestido. É um registro de uma época sofrida da História, mas que também mostra a coragem de pessoas que não se renderam ao terror e se mantiveram firmes usando os livros como "arma".
Jornalista de cultura há duas décadas, António Iturbe investigou, juntou os dados e meteu mãos à obra. A história está num livro agora publicado em Portugal e intitulado "A bibliotecária de Auschwitz".
“No princípio, realmente tinha muito pudor em misturar o que são os acontecimentos com a ficção. A minha primeira ideia foi fazer um livro de ensaio. Mas a verdade é que estava a sair uma coisa muito fria, muito distante com alguns factos, números, com dados da documentação. No final, apercebi-me de que o jornalista precisa também de certas ferramentas para contar a verdade. Eu acredito que uma notícia bem contada não é apenas uma soma de acontecimentos. Uma notícia bem contada são os acontecimentos, mais o olhar do jornalista que os conta, contextualiza, explica a sua importância e te diz qual o porquê das coisas. Isso não vem nos dados! Só o olhar te pode dar”, sustenta.
Os livros foram uma espécie de passaporte de saída do campo de concentração: “Nesse lugar horrível, onde quando olhas para fora apenas vês chaminés que deitam as cinzas das pessoas queimadas, vês lama, gente armada, cães a ladrarem, de repente entras num barracão, abres um livro e esse livro leva-te para as pirâmides do Egipto ou para a revolução francesa ou para a conquista da América”, afirma ainda.  Antonio Iturbe conheceu pessoalmente Dita Dorachova, a guardião da pequena biblioteca. “Não quis perguntar-lhe por certas coisas, porque acho que há coisas nas quais uma pessoa não se deve meter. Não deve entrar em certos recantos de dor. Dei-me conta que por vezes estava com um olhar perdido, que ficava calada com os pensamentos às voltas. Percebi que essas memórias estavam lá; 40 anos depois continuam presentes. E quando falamos de temas como a vingança disse-me que não a sente, mas não esquece o que aconteceu. Não pode esquecer. Tinha 70 anos, mas essa opressão e a perda dos seus pais são coisas que lhe ficaram gravadas para sempre”, recorda.

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