Há pessoas que só saem de casa depois de ligar e desligar todos os interruptores por três vezes, ou conferir se portas e janelas estão
trancadas, ou se todos os objetos estão simetricamente alinhados. Outras apresentam medo exagerado de contaminação e, por isso mesmo, lavam as mãos até se machucarem, tomam banhos intermináveis ou limpam móveis, maçanetas e objetos pessoais, de forma sistemática e repetitiva, em hábitos que estão longe de ser simples "manias", esquisitices ou excentricidades. Tais pessoas são portadoras do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Segundo o psiquiatra norte-americano John Ratey, professor da Harvard Medical School, quase 4% da população em geral sofre de TOC e ele atinge igualmente homens e mulheres de diferentes países, culturas e níveis socioeconômicos. Em Mentes e Manias, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva aproxima o leitor do universo dessas compulsões, mostrando como os portadores do transtorno tornam-se aos poucos prisioneiros desses pensamentos e rituais. Mesmo sabendo que suas ideias e ações são um tanto descabidas, não conseguem controlá-las. Envergonhadas e com medo de serem ridicularizadas, muitas escondem seu problema e sofrem sozinhas.
Mas como pessoas inteligentes podem se deixar dominar por manias aparentemente tão absurdas? A autora nos lembra que o TOC não tem nenhum tipo de relação com o grau de inteligência de seu portador: "Os fatores envolvidos nesse jogo são predisposição genética, situações de estresse, fatores neurobioquímicos, infecção por estreptococos, alterações hormonais durante a evolução da gravidez e após o parto, fatores psicológicos, entre outros." Muito embora as pesquisas sobre a verdadeira origem do transtorno não sejam conclusivas, os primeiros sintomas do TOC podem ser identificados e tratados, como explica Ana Beatriz.
Compulsões ou manias por lavagem e assepsia, por organização e simetria, por verificação e checagem, manias de repetição, de contagem e de colecionamento são apenas alguns dos exemplos descritos em Mentes e Manias. A autora explica que, ao manifestarem esses sintomas, em geral as pessoas têm consciência de que essas atitudes são irreais e ilógicas, muitas vezes achando-se idiotas e tolas: "No entanto, elas acabam realizando-os do mesmo jeito por não suportar a ansiedade que sente. Essa sensação de tornar-se ridículo gera a vergonha em expor os sintomas e, em consequência, a ocultação dos mesmos. Em um grande número de casos de TOC, pessoas muito próximas do paciente (cônjuge, amigos, pais, irmãos etc.) não têm conhecimento de seus sintomas e do sofrimento produzido por ele.
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