sábado, 3 de novembro de 2012







Isoladas num mundo particular de difícil acesso, com hábitos restritos, ritualizados e repetitivos, as crianças que desenvolvem autismo são corriqueiramente vistas como estranhas e alheias a tudo e a todos. O que poucos sabem é que estes indivíduos são dotados de talentos e habilidades singulares. Diante do diagnóstico de autismo, o mais importante para os pais, professores e profissionais de saúde é criar mecanismos para ensinar a essas pessoas os prazeres contidos nos momentos de convivência com a criança, buscando amenizar para elas o caráter invasivo e intimidador que o contato social adquire.

Primeiro livro da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa escrito em parceria com especialistas da sua equipe, com experiência em crianças e adolescentes, Mundo singular, é um guia voltado para o público leigo, com foco no funcionamento mental da criança com autismo.
Caracterizado por um conjunto de sintomas que afeta a socialização, a comunicação e o comportamento, e que acomete cerca de 70 milhões de pessoas no mundo, o transtorno afeta, sobretudo, a interação social desses indivíduos. Em crianças, o distúrbio é mais diagnosticado do que o câncer, a AIDS e a diabetes somados. Sua manifestação é mais comum no sexo masculino do que no feminino. No entanto, apesar de sua prevalência, o tema permanece nebuloso para a maior parte da sociedade, e muito do que se imagina é fruto de preconceitos e mitos.
Os autores abordam a cada capítulo os elementos que influenciam a vida de quem vive com o transtorno e daqueles que o cercam. O relacionamento com familiares, o ambiente escolar, o diagnóstico, o tratamento, a afetividade, a vida profissional, as questões legais e as perspectivas futuras são esmiuçados num texto escrito com sensibilidade, em que a teoria ganha contornos humanos, com uma sucessão de relatos de casos reais, que preservam a identidade dos pacientes e defendem uma visão mais humana e positiva acerca dessas crianças que enxergam o mundo de forma tão singular.
Há ainda a preocupação em tratar do espectro do autismo, revelando as nuances e gradações dos sintomas e que tornam, muitas vezes, o diagnóstico impreciso. Um dos exemplos descritos é a Síndrome de Asperger, uma doença considerada um “tipo leve” de autismo, mas bastante desafiante para os especialistas, pois é confundida com outros transtornos. Quando não tratada, a síndrome também impede que a pessoa coloque em prática suas habilidades inatas e cumpra seu papel social.
“O diagnóstico impreciso (ou até errôneo) ocorre especialmente quando o paciente tem traços de autismo, ou seja, apresenta apenas alguns sintomas da doença. Essas pessoas podem passar a vida toda despercebidas, sem diagnóstico e tratamento adequados. É um dos grandes desafios da medicina diagnosticar pessoas que não apresentam autismo clássico (grave), cujos sintomas são mais fáceis de serem identificados”, explica Ana Beatriz.
Além da questão clínica, atenta aos avanços científicos sobre o assunto, mas sem resvalar para uma linguagem técnica, o livro busca despir os preconceitos associados ao tema e demonstrar que a convivência com uma criança com autismo pode se transformar em uma empreitada surpreendente e transformadora.
“Para se estabelecer uma relação verdadeira com a criança com autismo temos que nos abrir para uma nova forma de entendimento compartilhado, que inclua novos sinais e significações que sejam compreensíveis para ela. E nessa concepção somos nós que temos que aprender uma nova linguagem.”, pondera Ana Beatriz.

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