quarta-feira, 6 de agosto de 2014


Capa do livro Reflexos do sol-posto 
Logo nas primeiras páginas de Reflexos do sol-posto, Ivan Junqueira avisa que o leitor está diante de sua última coletânea de ensaios. Com uma longa trajetória como crítico e ensaísta (seus primeiros textos do gênero foram escritos na década de 1960), o poeta e acadêmico Junqueira reúne nesse livro críticas e análises feitas depois do ano 2000, refletindo sobre o cenário nacional das letras. Machado de Assis, Augusto dos Anjos, João Cabral de Melo Neto estão entre os autores cuja obra o poeta e ensaísta se detém em reflexões profundas.
Em um dos ensaios, ele foca nos cem anos de “Eu”, obra de Augusto dos Anjos. O poeta inclassificável, cujo único livro, apesar de muito popular, não se enquadra em nenhum movimento do período. Junqueira analisa a importância do poeta diante de diferentes aspectos: sua obra, trajetória e todo o cenário literário do período em que viveu. Uma existência pobre e uma vida sem grandes atrativos, mas um livro que resistiu ao tempo e até hoje encanta os leitores brasileiros. “Completa agora cem anos. E insiste em não morrer” (Junqueira, 2014, p. 35), afirma em seu texto.
Em “Gonçalves Dias e o romantismo”, o crítico reflete como o poeta contribuiu para a instauração do movimento romântico no Brasil. Analisa poemas marcantes do autor, como “I-Juca Pirama”, segundo ele, “o maior poema de todo o Romantismo brasileiro e um dos maiores de nossa literatura” (idem, p. 47). A partir da obra de Gonçalves Dias, o crítico pensa sobre todo o clima da época, o que Machado de Assis classificou como “instinto de nacionalidade”, uma espécie de reflexo, na literatura, da onda de nacionalismo despertada pela independência do país, no século XIX.
O autor escreve ainda sobre a obra de outros escritores, como Machado de Assis, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto. Seus ensaios dão especial atenção à poesia, a obra de autores específicos, à escrita nas últimas décadas do século XX, aos textos críticos que se preocuparam em tratar o tema, como os de José Guilherme Merquior e de Eduardo Portella. E lamenta: “De uns tempos pra cá, vêm escasseando entre nós os autênticos pensadores da poesia (...)” (idem, p.132).
Cada um dos textos de Ivan Junqueira funciona como uma aula de literatura, que cobre boa parte da história da poesia brasileira – do Romantismo à contemporaneidade. Cada um abre uma série de questões e importantes reflexões, mesmo para os que já estão familiarizados com as obras expostas. Uma coletânea para ser constantemente consultada.

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