Falta visão social ao Vale do Silício, diz empreendedor.
YURI ONZAGA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Apesar do potencial transformador que possuem, as empresas do Vale do Silício não têm preocupação social, salvo exceções. A visão é de Peter Sims, um dos nomes da inovação californiana e o autor de "Little Bets", citado entre os melhores livros de negócios de 2011 por "Wall Street Journal" e "Washington Post".
A reputação do Facebook está abalada desde sua entrada no mercado financeiro.Eles estão tentando descobrir o que fazer com essa base de usuários gigantesca, mas não estão mostrando muito progresso. O problema do Facebook é que eles não prestam atenção de verdade no que o usuário quer. Mark Zuckerberg presta, mas a empresa não.
O Facebook depende demais de Zuckerberg?
No quesito inovação, sim. Da mesma maneira que a Apple já dependeu de um só gênio de produto. Acho que a Amazon, por exemplo, é muito mais inovadora que o Facebook por causa disso.
Peter Sims, empreendedor californiano e autor do livro "Little Bets", sobre inovação tecnológica.
Como uma empresa pode propiciar a inovação?
É preciso fazê-la em pequenos passos. Há um medo muito grande do fracasso, que é simplesmente tentar resolver problemas e acabar apresentando soluções imperfeitas --o que eu acho que acontece na maior parte do tempo. Temos aprendido a fugir dos erros, mas é impossível criar sem fracassar.
E o que deveríamos aprender?
O sistema educacional --ao menos o americano-- meramente treina as pessoas para minimizar danos. Isso é o que mais tem podado a criatividade das pessoas, impedindo-as de levantarem a cabeça e criarem. Pode ser que no Brasil isso seja diferente, mas vejo que em muitas partes do mundo a mentalidade é essa.
Você vê diferença entre brasileiros e americanos?
Muitos empresários que saem dos EUA rumo a mercados emergentes são arrogantes --e se dão mal. Acho que é porque nossa sociedade é mais individualista. Não há como levar uma ideia a um país sem considerar profundamente sua cultura --e os empreendedores brasileiros que conheço são muito mais humildes culturalmente.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Apesar do potencial transformador que possuem, as empresas do Vale do Silício não têm preocupação social, salvo exceções. A visão é de Peter Sims, um dos nomes da inovação californiana e o autor de "Little Bets", citado entre os melhores livros de negócios de 2011 por "Wall Street Journal" e "Washington Post".
Nesta entrevista, concedida por telefone à Folha, Sims enaltece a atitude "humilde" de empresários brasileiros que vão aos EUA e critica a dependência, por parte do Facebook, de Mark Zuckerberg.
Folha - As start-ups do Vale do Silício estão preocupadas com a questão social?
Peter Sims - Essa é uma boa pergunta. Não, eu não vejo as companhias se esforçando para resolver os grandes problemas do país, como a pobreza ou a fome, com a exceção das "social ventures" [companhias iniciantes filantrópicas]. Vejo as empresas tentando suprir necessidades das pessoas decidindo tudo a partir de um cubículo ou de cima para baixo, e isso não funciona nem quando o intuito é ganhar dinheiro.
E como fazer uso da tecnologia pelos mais pobres?
Acho que a resposta está justamente nas "social ventures". Um exemplo é a Kiva, que torna possíveis empréstimos entre pessoas ao redor do mundo, sem intermediários, pelo seu site, mas também vejo o Facebook enquanto um admirável uso da tecnologia.
Por quê?
O Facebook partiu de uma ideia brilhantemente inovadora, conectando pessoas entre si e fazendo-as com que se sintam mais próximas. O "feed de notícias" é inovador. Por não querer se politizar de qualquer maneira, contudo, acabam se mostrando avessos às causas sociais mais amplas, como nos episódios de revolta no Oriente Médio, quando se omitiram.
Folha - As start-ups do Vale do Silício estão preocupadas com a questão social?
Peter Sims - Essa é uma boa pergunta. Não, eu não vejo as companhias se esforçando para resolver os grandes problemas do país, como a pobreza ou a fome, com a exceção das "social ventures" [companhias iniciantes filantrópicas]. Vejo as empresas tentando suprir necessidades das pessoas decidindo tudo a partir de um cubículo ou de cima para baixo, e isso não funciona nem quando o intuito é ganhar dinheiro.
E como fazer uso da tecnologia pelos mais pobres?
Acho que a resposta está justamente nas "social ventures". Um exemplo é a Kiva, que torna possíveis empréstimos entre pessoas ao redor do mundo, sem intermediários, pelo seu site, mas também vejo o Facebook enquanto um admirável uso da tecnologia.
Por quê?
O Facebook partiu de uma ideia brilhantemente inovadora, conectando pessoas entre si e fazendo-as com que se sintam mais próximas. O "feed de notícias" é inovador. Por não querer se politizar de qualquer maneira, contudo, acabam se mostrando avessos às causas sociais mais amplas, como nos episódios de revolta no Oriente Médio, quando se omitiram.
A reputação do Facebook está abalada desde sua entrada no mercado financeiro.Eles estão tentando descobrir o que fazer com essa base de usuários gigantesca, mas não estão mostrando muito progresso. O problema do Facebook é que eles não prestam atenção de verdade no que o usuário quer. Mark Zuckerberg presta, mas a empresa não.
O Facebook depende demais de Zuckerberg?
No quesito inovação, sim. Da mesma maneira que a Apple já dependeu de um só gênio de produto. Acho que a Amazon, por exemplo, é muito mais inovadora que o Facebook por causa disso.
Como uma empresa pode propiciar a inovação?
É preciso fazê-la em pequenos passos. Há um medo muito grande do fracasso, que é simplesmente tentar resolver problemas e acabar apresentando soluções imperfeitas --o que eu acho que acontece na maior parte do tempo. Temos aprendido a fugir dos erros, mas é impossível criar sem fracassar.
E o que deveríamos aprender?
O sistema educacional --ao menos o americano-- meramente treina as pessoas para minimizar danos. Isso é o que mais tem podado a criatividade das pessoas, impedindo-as de levantarem a cabeça e criarem. Pode ser que no Brasil isso seja diferente, mas vejo que em muitas partes do mundo a mentalidade é essa.
Você vê diferença entre brasileiros e americanos?
Muitos empresários que saem dos EUA rumo a mercados emergentes são arrogantes --e se dão mal. Acho que é porque nossa sociedade é mais individualista. Não há como levar uma ideia a um país sem considerar profundamente sua cultura --e os empreendedores brasileiros que conheço são muito mais humildes culturalmente.
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