sexta-feira, 8 de março de 2013

E se você desejasse a morte de uma pessoa e isso acontecesse? E se o assassino fosse alguém que você ama? 

Você não lembra do nosso plano? - Nick diz antes de se suicidar.

Eles tinham ou não um plano? Valerie é ou não também culpada, mesmo não tendo atirado em ninguém? Pelos diálogos que ela relata, eles conversavam muito sobre suicídio, sobre morte, inclusive sobre como seria se realmente aquelas pessoas moressem. O problema é que um estava falando sério e o outro não.


Nick era fã das tragédias de Shakeaspere e falava em como eles eram Romeu e Julieta, como eles pensavam parecido, como "we get to win sometimes". Mas ela nunca percebeu. Eles sentiam tanta raiva que falar dessas coisas era normal, uma forma de extravasar. Valerie decide voltar para a escola, mesmo se culpando e sendo acusada pela maioria, inclusive seus pais. As pessoas estão divididas entre acreditar que Valerie é inocente e dar crédito a ela por ter parado o tiroteio. Lembram daquela história do gordinho que foi filmado se defendendo de um bullying, arrebentou o moleque e virou ídolo? E aí, Valerie heroína ou vilã? Nick, herói ou vilão?
Valerie tem que lidar com o fato ainda ama Nick, mesmo depois de tudo, ela ama um Nick que ela se apaixonou, não o atirador daquele dia. Um Nick que sofria as mesmas coisas que ela, que era doce, amável, enfim, vítima. As pessoas não estão prontas para lidar com isso, elas estão com raiva e sofrendo, então Valerie escolhe se isolar. Como o ponto de vista inteiro da história é o da Valerie (e de alguns jornais da cidade), nós acabamos simpatizando com Nick de alguma forma, o que eu achei uma escolha bem interessante da autora.
Quando a raiva e o tempo passam, as pessoas começam a se perguntar, mesmo que em silêncio, sobre os motivos dele. Por que eu estava naquela lista? Onde eu errei? Quais motivos eu dei? Não seria Nick tão vítima como qualquer outra pessoa naquele tiroteio?
Você começa a pensar em todas as pessoas que odiou também quando era adolescente, até que ponto isso era real e se coloca no lugar de Valerie, onde as coisas saíram completamente do controle. De uma forma ou de outra, Nick mudou aquelas pessoas, Valerie em alguns momentos até se pergunta, ele foi um herói? Aquilo era realmente necessário e só Nick viu?
O livro é um drama social de primeira e invoca naturalmente muita reflexão.Na fala dos outros estudantes, dos pais, da própria Valerie, o tempo todo é colocando um "e se...".

- E se eu tivesse prestado mais atenção?
- E se a escola tivesse tomado alguma providência?
- E se eu tivesse percebido antes?
- E se nós tivéssemos tratado ele melhor?

- E se eu não tivesse começado a lista?

                                       

O namorado de Valerie Leftman, Nick Levil, abriu fogo contra vários alunos na cantina da escola em que estudavam. Atingida ao tentar detê-lo, Valerie também acaba salvando a vida de uma colega que a maltratava, mas é responsabilizada pela tragédia por causa da lista que ajudou a criar. A lista com o nome dos estudantes que praticavam bullying contra os dois. A lista que ele usou para escolher seus alvos. Agora, ainda se recuperando do ferimento e do trauma, Val é forçada a enfrentar uma dura realidade ao voltar para a escola para terminar o Ensino Médio. Assombrada pela lembrança do namorado, que ainda ama, passando por problemas de relacionamento com a família, com os ex-amigos e a garota a quem salvou, Val deve enfrentar seus fantasmas e encontrar seu papel nessa história em que todos são, ao mesmo tempo, responsáveis e vítimas. A lista negra, de Jennifer Brown, é um romance instigante, que toca o leitor; leitura obrigatória, profunda e comovente. Um livro sobre bullying praticado dentro das escolas que provoca reflexões sobre as atitudes, responsabilidades e, principalmente, sobre o comportamento humano. Enfim, uma bela história sobre auto-conhecimento e o perdão.
                                         

Nenhum comentário: