segunda-feira, 11 de março de 2013

A sombra de Hitler no céu O LIVRO QUE FALTAVA SOBRE O NAZISMO E AS GUERRAS MUNDIAIS

Meu prefácio para o livro Hitler - Retrato de uma tirania, de Fernando Jorge.
Foto -Fernando Jorge Fluminense, filho de Salomão Jorge e Albertina Alves Jorge é escritor, historiador, biógrafo, crítico literário, dicionarista, enciclopedista e jornalista. Estudou Direito na Universidade de São Paulo, é diplomado em Biblioteconomia (foi diretor da Divisão Técnica de Biblioteca da Assembléia Legislativa de S.Paulo), e jornalista com a carteira 088 da Associação Brasileira de Imprensa - SP.Fernando Jorge é figura que provoca polêmica e admiração. Seus premiados livros causam discussões e incitam a crítica e o público a importantes reflexões. Elogiado por seus livros extremamente pesquisados e rigorosamente documentados, Fernando Jorge obteve um de seus ápices em 1987 quando lançou “Cale a Boca, jornalista!”, contundente e minucioso relato sobre as torturas sofridas por jornalistas brasileiros durante o período militar pós-1964.

O autor, agraciado com o Prêmio Jabuti, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, também já ganhou o Prêmio Clio, da Academia Paulistana de História, pela obra “Getúlio Vargas e o seu Tempo”.
Ele recebeu a medalha de Koeler, em 1957, pelos grandes serviços prestados à cultura brasileira. Apaixonado por ela, também escreveu “Vida e Poesia de Olavo Bilac” e “O Aleijadinho”, entre muitos outros títulos. Prova de seu empenho em compreender o Brasil e seus personagens marcantes é este “Santos Dumont – As Lutas, a Glória e o Martírio de Santos Dumont”, obra que revela a ousada e empreendedora personalidade do inventor do avião, do relógio de pulso, da escada em caracol - entre outras fantásticas contribuições à humanidade.


 Em 1963, na rua São Bento, em São Paulo, o então jovem escritor Fernando Jorge encontrou um amigo -- o também escritor e político -, Israel Dias Novaes, diretor do Banespa e do jornal Correio Paulistano.Os dois foram juntos a um café de esquina, onde Israel, conhecedor da predileção de Fernando por História, recomendou-lhe certo livro que lera recentemente. Tratava-se de uma biografia de Adolf Hitler, recém-publicada no Brasil, escrita por um autor alemão chamado Herman Zumerman (não HermannZummerman, na grafia alemã correta. O título dessa obra era Hitler – Anatomia de uma tirania, e a nota do editor dizia o seguinte: 
O crítico Alfred Belsen escreveu, a propósito deste livro: “Zumerman é, indiscutivelmente, um grande escritor. Seu estilo é excelente, muito agradável, saboroso. Consegue prender a atenção do leitor do começo ao fim. Hitler – Anatomia de uma tirania pode ser considerado,com justiça, o maior livro que apareceu, nestes últimos tempos, sobre o homem monstruoso que desencadeou, no mundo, a Segunda Grande Guerra”.
Animado, Novaes elogiou o livro, por sua clareza de estilo e abrangência da pesquisa realizada, mas, sobretudo, pela tradução ímpar, creditada a certo Raul Rodrigues. Ao ouvir isso, Fernando Jorge caiu na gargalhada, e, diante da perplexidade do amigo, soltou esta bomba: — Herman Zumerman sou eu!
O livro, na verdade, fora escrito em português pelo próprio Fernando, e publicado sob pseudônimo, por imposição de seu editor, o judeu búlgaro Eli Behar. No meio editorial brasileiro de então, autores estrangeiros vendiam mais que os nacionais, de modo que Herman Zumerman, o crítico Alfred Belsen e o tradutor Raul Rodrigues haviam sido todos inventados por Behar, numa época sem internet, em que tais imposturas passavam facilmente por verdades. O próprio Fernando Jorge conta, a respeito disso:
“Eu não queria de modo algum publicar o livro com outro nome que não o meu, mas o editor me fez uma proposta boa demais, e como eu ganhava muito pouco na Assembleia, havia acabado de me casar e precisava desesperadamente do dinheiro, acabei aceitando.”
Esta é a nova edição corrigida e atualizada — inclusive no subtítulo — de uma das primeiras biografias de Hitler escritas por autor brasileiro. Fernando Jorge a produziu, em 1962, enquanto o mundo acompanhava julgamento de Adolf Eichmann, um dos principais carrascos nazistas, e a lançou em 1963, dez anos antes da primeira grande biografia alemã do Führer, de autoria do historiador Joachim Fest. Desde o seu suicídio em 1945, num abrigo subterrâneo localizado sob as ruínas de Berlim, cuja destruição (e a de boa parte da Europa) ele mesmo havia causado, o ditador alemão Adolf Hitler tem sido um enigma do mal. Seu maquiavelismo político, sua delirante obsessão pela superioridade racial, seu ódio excessivo — e até hoje inexplicável — pelos judeus, tudo isso aliado a um desprezo pela vida humana nunca antes visto, fazem dele o homem mais abominável que já comandou uma superpotência. Após seduzir a nação alemã, ele causou a Segunda Guerra Mundial e promoveu o Holocausto, deixando um saldo de milhões de mortos e um legado sinistro aos populistas e demagogos das gerações seguintes.
Sem nada diminuir da monstruosidade de Hitler, esta biografia equilibrada e imparcial tecida por Fernando Jorge procura preservar -lhe a dimensão humana, buscando nas deformidades do seu caráter a verdadeira origem da selvageria nazista. Entre outros fatos pouco conhecidos da vida dele, somos informados de que Adolf se apaixonou quando adolescente, mas não se atreveu a cortejar a amada devido à sua timidez excessiva, anormal e até inviril. O que era Hitler, afinal de contas? Um psicopata? Um homossexual enrustido? Um neurastênico? Um mero oportunista ou um crente sincero na doutrina antissemita? Ou ambas as coisas? Uma das causas do seu monumental complexo de inferioridade poderia ter sido uma deficiência física? Qual?
Reconstituindo a trajetória do menino pobre maltratado pelo pai e mimado pela mãe, do artista frustrado, do vagabundo ressentido e morador de rua em Viena, passando por sua carreira de soldado destemido na Primeira Guerra Mundial, depois pela de orador popular, político demagogo, líder do Partido Nazista, até se tornar chanceler e, por fim, chefe supremo do estado alemão, perseguidor das minorias e flagelo de toda a Europa, Fernando Jorge mais uma vez nos deleita com a beleza de sua prosa e a abrangência de sua erudição, tintas multicoloridas com que pintou este retrato fidedigno e irretocável da maior de todas as tiranias.


                                         

Curiosidade sobre o livro:
 

Animado, Novaes elogiou o livro, por sua clareza de estilo e abrangência da pesquisa realizada, mas sobretudo pela tradução ímpar, creditada a um certo Raul Rodrigues.

Ao ouvir isso, Fernando Jorge caiu na gargalhada, e, diante da perplexidade do amigo, soltou esta bomba:


— Herman Zumerman sou eu!


O livro, na verdade, fora escrito em português pelo próprio Fernando, e publicado sob pseudônimo, por imposição de seu editor, o judeu búlgaro Eli Behar. Na realidade editorial brasileira de então, autores estrangeiros vendiam mais que os nacionais, de modo que Herman Zumerman, o crítico Alfred Belsen e o tradutor Raul Rodrigues haviam sido todos inventados por Behar, numa época sem internet, em que tais imposturas passavam facilmente por verdades.

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