Livro inédito da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, Corações descontrolados revela e explica as características da personalidade borderline (TPB), relatando em detalhes os sintomas do transtorno e o sofrimento que ocasiona tanto para os portadores quanto aos familiares e às pessoas do convívio mais íntimo. Ao entrelaçar análise clínica elaborada para o leitor leigo e a descrição de casos reais, a autora mergulha num universo ainda pouco difundido, pautado pela instabilidade afetiva e de humor.
A pessoa border, de modo geral, pode ser reconhecida por suas ações autodestrutivas, que abrangem uso de drogas, sexo sem proteção, atitudes lesivas contra si mesmo e terceiros, levando em grande parte dos casos a tentativas de suicídio. Em geral, o que está por trás das explosões de raiva é o mais profundo medo de rejeição, a dependência afetiva e uma insegurança patológica.
“Quem sofre desse transtorno vive uma constante hemorragia emocional; vez por outra sangra a alma e, não raro, o próprio corpo”, explica Ana Beatriz. Segundo ela, não é por outra razão que a questão afetiva seja a causa central dos sintomas apresentados pelos pacientes, e também a mais difícil de ser resolvida.
A personalidade borderline é descrita por comportamentos extremos, fortes e persistentes. O próprio termo em inglês, que quer dizer fronteiriço, limítrofe, já assinala para o fato de estas pessoas viverem no limite de suas emoções. Dessa forma, deixam-se levar pela impulsividade, pela tristeza e pelo medo. Com frequência, sentem ciúmes avassaladores e tendem a achar que todos estão contra elas, apresentando sintomas de depressão, com a sensação de vazio, insatisfação pessoal e instabilidade emocional. A autora chama atenção para uma série de sutilezas e sobreposição de sintomas que podem confundir o diagnóstico, uma vez que o comportamento disfuncional pode estar associado a uma série de outros transtornos psiquiátricos, tais como ansiedade patológica, depressão, bipolaridade, TDAH e até mesmo psicopatia.
“Os limites da mente border são tênues e frouxos. Muitas vezes, apresentam quadros depressivos e eufóricos de duração variável; no entanto, ambos tendem a ser precipitados por acontecimentos externos imediatos. As pessoas borders são dependentes desses referenciais de desempenho imediato, uma vez que possuem sérias dificuldades de se autoavaliarem”, explica a psiquiatra.
Estima-se que 2% da população mundial apresente em algum grau os sintomas que caracterizam a personalidade borderline. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Associação de Psiquiatria Americana (APA), o transtorno acomete em sua maioria mulheres, cerca de 75% dos casos. Mas os homens também sofrem do problema, assim como os adolescentes de ambos os gêneros, fase em que normalmente o problema é deflagrado e agravado pela instabilidade da própria da idade e por vivenciarem as primeiras relações amorosas. A psiquiatra também analisa o sofrimento causado por pais borderlines a seus filhos, especialmente por mães, assim como o desenvolvimento do transtorno em crianças.
A autora ainda se vale de personagens célebres reais e fictícios para exemplificar comportamentos típicos de um borderline. Recorda o papel interpretado por Winona Ryder em Garota, interrompida, e a temperamental Maria Helena encarnada por Penélope Cruz em Vicky Cristina Barcelona. Na vida real, cita o comportamento autodestrutivo de Amy Winehouse e inclui Marylin Monroe, sempre envolta a relacionamentos conturbados, no hall das celebridades borderline.
Com sensibilidade, Ana Beatriz aproxima seus leitores do tema complexo ao relatar depoimentos carregados de emoção colhidos com pacientes que buscaram ajuda médica. “Sinto-me constantemente em uma corda bamba, como se a qualquer momento pudesse perder o equilíbrio e cair para um lado ou para outro. Estou sempre a um passo de perder o controle”, exemplifica a autora, no trecho da história contada por um paciente sobre sua instabilidade emocional.
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