A história da apreensão de um livro, escrito por JJ Jadway, um obscuro romancista, considerado obsceno e pornográfico (ele e o livro).
Ben Fremont é pequeno empresário e dono da livraria Empório Fremont. Ele mesmo indica aos seus fregueses o livro "Os Sete Minutos", escrito por JJ Jadway. Segundo as leis do Estado da Califórnia, o referido livro pode ser considerado pornográfico e como tal um atentado à moral e bons costumes da sociedade. A instauração do inquérito e apreensão do livro, mesmo na ficção, não passa de um procedimento nebuloso, que serve aos interesses políticos de alguma autoridade. Ao longo do processo, o autor é considerado um tarado sexual e intelectual porque descreve com um realismo absoluto todas as sensações da mulher, durante um ato sexual, que segundo ele, tem sempre a duração de sete minutos. Como agravante do processo, acontece um crime de estupro na mesma cidade, sendo que o acusado, Jerry Grifth, alega incitamento involuntário para o estupro de Sheri Moore. A história do crime corre em paralelo à história do processo judicial. O promotor Duncan tem interesse no processo porque o escândalo favorece sua futura candidatura a uma função política na mesma comunidade. O pai de Jerry, o acusado, é um importante e influente cidadão que aplica dinheiro e prestígio para que o filho seja declarado inocente. O advogado de defesa, o incorruptível Michael Barret, trabalha incansavelmente para anular a acusação no sentido de livrar o pequeno empresário Ben Fremont da acusação de favorecer a circulação de pornografia, e aproveita para dar um brado de liberdade, no sagrado e inviolável direito de expressão.
O livro é incluído no "index" das igrejas, por descrever com total realismo as sensações de uma mulher, durante o ato sexual que, segundo o autor, tem a duração de sete minutos. Para impedir a circulação do livro, foi instaurado um processo judicial. Simultaneamente ao processo, acontece na cidade um crime de estupro e o acusado, para defender-se, alega que foi incitado pela leitura do livro Os Sete Minutos.
Trecho do livro: Era segunda-feira de manhã, finalmente, dia 22 de junho desse ano de Nosso Senhor, e Mike Barrett, sentado à cabeceira da mesa do conselho de defesa, nervoso de impaciência, aguardava ansiosamente o início do julgamento. Olhando por cima do ombro para o relógio redondo na parede, muito acima da entrada da sala 803 do Tribunal Superior da Comarca de Los Angeles
, Mike Barrett verificou que o ponteiro pequeno assinalava o número nove e o grande passara um pouco do quatro. Eram nove e vinte e dois. Dentro de oito minutos, o oficial de justiça daria o aviso formal e depois, por fim, travar-se-ia a batalha. Os olhos de Barrett desviaram-se do relógio para o apinhado espaço reservado ao público, logo abaixo. Os espectadores haviam ocupado não só todas as poltronas marrons de assento móvel, mas também as cadeiras desmontáveis de madeira que tinham sido transferidas do corredor e encostadas às paredes, defronte às cortinas cor de chocolate que cobriam as janelas de cada lado dos aparelhos de ar condicionado. Com exceção de um ou outro rosto conhecido que identificava aqui e ali - Philip Sanford, lrwin Blair, Maggie Russell (cujo olhar não conseguiu surpreender) -, eram todos estranhos aqueles membros da platéia, os curiosos, os preocupados, os implicados, a espécie de Homo sapiens que o promotor público precisava proteger da depravação, que ele próprio precisava salvar de uma sentença que prometia mudez, surdez e cegueira. Ficou pensando, por um momento, na quantidade de gente que queria entrar na sala do tribunal, e não conseguira. Quando ele, em companhia de Zelkin, Kimura, Sanford, Fremont e Donna, havia chegado ao oitavo andar do Palácio da Justiça, quarenta e cinco minutos atrás - Kimura e Donna tinham vindo para ajudar a trazer as enormes pastas e a caixa de papelão contendo o sumário da defesa, os instrumentos de prova, livros de consulta, notas de pesquisa -, espantara-se com a agitada turba que se comprimia e atulhava todo o corredor que conduzia ao Tribunal Superior no outro lado do prédio. Calculava que trezentas pessoas, no mínimo, lutavam para entrar na sala. E apenas um terço conseguira. Lembrava-se do momento em que cruzara a barreira de luzes ofuscantes que acompanhava as câmaras de televisão logo do lado de fora da entrada. Um comentarista havia reconhecido Ben Fremont e tentara arrastá-lo a uma entrevista frente à objetiva, mas o livreiro não esquecera as instruções da véspera e recusara-se. Diversos jornalistas tentaram encurralar Zelkin e Barrett, crivando-os de perguntas absurdas, mas Zelkin respondera rudemente que tudo o que a defesa tinha a dizer estava reservado para os anais do tribunal. Detidos brevemente, enquanto os guardas procuravam abrir-lhes caminho, Barrett observara e escutara o que dizia o famoso comentarista Merle Reich, que já encontrara inúmeras vezes em casa dos Osborn. Reid estava parado diante de uma câmara, segurando um maço de notas e descrevendo a cena. - É incrível o espetáculo que estamos presenciando no oitavo andar do Palácio da Justiça - dizia Reid ao microfone pendurado em seu pescoço, encarando a objetiva -uma cena para a qual as autoridades se encontravam totalmente desprevenidas. Certos julgamentos atraem a atenção internacional porque focalizam grandes nomes e celebridades. Foi o caso do processo de dois dias de Mary Stuart, rainha da Escócia, no Castelo de Fotheringay em 1586, ou do julgamento de Bruno Hauptmann em Flemington, Nova Jersey, pelo seqüestro e assassinato de Charles A. Lindbergh Jr, em 1935. Os outros processos despertam a atenção internacional porque se referem a escândalos. Por exemplo, o adultério do reverendo Henry Ward Beecher, no Tribunal Municipal de Brooklyn, em 1875, sob a acusação de alienação de afeto. E, por exemplo, o de Oscar Wilde, em Old Bailey, em 1895, sob a acusação de homossexualismo. Alguns chamam a atenção mundial por envolverem controvérsias políticas. Já houve julgamentos desse tipo nos Estados Unidos. .. o de Mary Surratt e seu companheiro de conspiração, processados no velho prédio da Penitenciária de Washington pelo assassinato do presidente Lincoln, o de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, processados no Tribunal de Dedham, Massachusetts, como anarquistas homicidas. Houve julgamentos desse tipo na Europa. . . Émile Zola foi processado em Paris por caluniar o Ministério da Guerra na defesa que fez do capitão Alfred Dreyfus, e o cardeal Joseph Mindszenty foi processado pelo Tribunal Popular de Budapeste por tentativa de derrubar o governo comunista húngaro. - E depois há julgamentos que despertam a atenção internacional porque envolvem o direito humano à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa. Como, por exemplo, o de John Peter Zenger, editor do New York Weekly Journal, que foi acusado de difamar o tirânico governador real em seus artigos e que enfrentou julgamento na Prefeitura de Nova Iorque em 1735. Zenger tinha escrito: "A perda da liberdade geral viria logo após a supressão da liberdade de imprensa. .. nenhuma nação, antiga ou moderna, jamais perdeu o privilégio de falar, escrever ou divulgar com franqueza seus sentimentos sem imediatamente perder a liberdade geral e tornar-se escrava". No entanto, só a defesa heróica de seu idoso advogado, Andrew Hamilton, conseguiu a absolvição de Zenger. .. obtendo para a liberdade de expressão americana uma importante, porém efêmera, vitória. - Desde o memorável processo de John Peter Zenger nenhum outro julgamento relacionado com a liberdade de expressão ou imprensa foi considerado tão importante quanto esta ação penal instaurada pelo Estado da Califórnia contra um livreiro desconhecido chamado Ben Fremont, acusado de distribuir obscenidade sob a forma de um pequeno romance underground "Os sete minutos" escrito por um expatriado americano morto há mais de três décadas.
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