terça-feira, 28 de maio de 2013

A Itália na Segunda Guerra Mundial-Pt. 2 
Uma análise da “covardia” dos soldados de Mussolini A #Alemanha atacou a #Polônia em setembro de 1939 usando táticas revolucionárias de emprego de blindados e aviação em conjunto. O resultado surpreendeu por sua eficiência e os poloneses foram derrotados em seis semanas. A Itália não declarou imediatamente guerra em apoio à Alemanha, como o “Pacto de Ferro” a obrigaria a fazer. Mussolini enviou suas razões a Hitler, dizendo que não estava preparado para mover uma guerra. De acordo com alguns estudiosos, Mussolini não acreditava o suficiente no sucesso dos alemães, o que aliado com o relatório de Badoglio o convenceu a não agir. Mas em maio de 1940 os alemães novamente atacaram, desta vez a oeste, esmagando a Holanda em cinco dias e penetrando na Bélgica e França de forma avassaladora. Mais uma vez o desejo do “Império” subiu à cabeça do Duce, e ele calculou que se não agisse logo, não teria direito aos espólios que viriam da derrota anglo-francesa. Mussolini, apesar dos protestos de seus mais próximos seguidores, como Ciano, Badoglio e Balbo, decidiu ir à guerra no dia 10 de junho. Não havia tempo nem para grandes mobilizações e nem confecção de planos, a ação seria iminente, antes que a França caísse perante aos alemães. Vê-se então que os comandantes locais não tiveram responsabilidade pelo despreparo de suas tropas, pois não tiveram tempo para fazê-lo. Em alguns casos, só souberam que estavam em guerra quando foram alvejados pelo inimigo.
O conceito de guerra prolongada não havia sido considerado por #Mussolini, que pretendia meramente “engajar” o inimigo sem realizar uma ofensiva real. “Só preciso de alguns milhares de mortos para me sentar à mesa de negociações” dissera o Duce. Mas seus inimigos, mais especificamente os ingleses, não colaborariam com essa vontade. Atacaram os italianos na Líbia, partindo do Egito, desde o primeiro dia da guerra. Em meados de junho já haviam tomado um forte dentro do território inimigo. Balbo, que era o comandante das forças italianas na Líbia, telegrafou à Badoglio explicando-lhe que seus soldados lutavam contra tanques ingleses apenas com carabinas, mas que, no entanto, “fariam milagres”. Balbo, comparativamente, estava até em boa situação se comparado ao Duque de Aosta na AOI (Africa Orientale Italiana - Abissínia, Eritréia e Somalilândia). O Duque, porém, atacou logo com tudo que podia, adentrando em pequena escala no Sudão e Quênia. Balbo tinha planos para atacar em 15 de agosto, mas no dia 28 de junho morreu num acidente aéreo, em que seu avião foi derrubado acidentalmente pela artilharia antiaérea italiana em Tobruk.
Nos Alpes e na Riviera, formou-se um front contra os franceses. A ordem inicial era para manter a defensiva, mas rapidamente o Comando Supremo ordenou o ataque. Mal equipados e coordenados, os italianos não foram capazes de quebrar a linha francesa, mas apenas quatro dias depois a França se rendeu, mais precisamente devido ao potente ataque alemão pelo nordeste. Na negociação do armistício, Mussolini esperava extorquir dos franceses o máximo possível, mas foi impedido por Hitler, que não queria dar motivos aos franceses para continuar lutando, ao mesmo tempo não assustando os ingleses com termos de rendição pesados. Mussolini ficou enfurecido pela recusa do Führer em requerer a esquadra francesa, que foi autorizada a zarpar para a Argélia. O Duce também queria a ocupação da Tunísia, também negada, mas que faria imensa falta mais tarde.

A preocupação com Malta também provou-se justificada. Os aviões e a esquadra inglesa lá baseada realizavam ataques constantes ao tráfego marítimo italiano entre Europa e África. Ao declarar-se guerra, entretanto, não foi formulado um plano para sua captura. Malta se tornaria para os italianos, e mais tarde, os alemães, o espinho do Mediterrâneo.
Conforme a guerra progredia, o Duque de Aosta montou uma ofensiva para tomar a Somalilândia Britânica, partindo da Abissínia. Aquela pequena colônia inglesa era uma ameaça constante ao tráfego italiano no Mar Vermelho. O problema é que a situação italiana na AOI era a mais precária de todas. Dos poucos tanques de que dispunha o Duque, apenas um par de dúzias eram M 11/39s, todos os outros eram os pequenos L 3/35. Mesmo assim, todos os meios foram reunidos e em agosto foi desfechado o ataque. O avanço foi lento e as baixas pesadas, enquanto os ingleses evitavam o confronto direto e recuavam para evacuar a colônia em direção a Aden, na Arábia Saudita. Os italianos por fim derrotaram os ingleses em setembro, realizando um feito nunca igualado por seus aliados alemães: conquistar completamente um território do Império Britânico. Alguns autores atribuem o sucesso da ofensiva ao talento pessoal do Duque, outros ao fraco potencial inglês no local, e outros ainda às qualidades de grande parte dos oficiais lá presentes; muitos desses oficiais tinham pensamento muito “liberal”, sendo enviados (quase como exilados) pelo governo fascista àquela distante colônia. Um destaque entre esses oficiais deve ser feito para Amedeo Guillet, que organizou e liderou em batalha um grupo askari de cavalaria. Sua atuação durante o contra-ataque inglês no início de 1941 foi um exemplo de ousadia, merecendo comentários elogiosos mesmo de seus inimigos.
Com a morte de Balbo, Rodolfo Graziani foi nomeado para o comando na Líbia. Graziani também é objeto de muita discussão, e sua pessoa deve ser estudada de forma a esclarecer os eventos que se seguiram no Norte da África até fevereiro de 1941. Graziani é considerado um “covarde” por muitos, pois sua atitude ante os relatórios de inteligência sobre a movimentação inglesa no Egito foi, digamos, de cautela “excessiva”. No entanto, Graziani pôde analisar suas próprias forças e não ficou confiante com o que viu. Mussolini o urgia para que se movimentasse, mas o Marechal sempre se recusava. O contexto deve ser analisado: após a queda da França, as forças alemãs se posicionaram a apenas 30 km da costa inglesa, em Calais. A desastrosa retirada do exército anglo-francês em Dunquerque havia virtualmente “tosquiado” os ingleses, pois, em função da fuga, tiveram que abandonar todo seu material pesado, como veículos, canhões e morteiros, na praia belga. Hitler, assim como Mussolini, esperava que o povo inglês pedisse um acordo de paz, mas o primeiro-ministro Winston Churchill insistiu em continuar lutando. Como que a situação não chegasse a um ponto final, o Duce enviou um recado a Graziani:
“Pisaremos na Inglaterra no mesmo dia em que o primeiro pelotão alemão lá pisar. Nesse dia, peço-lhe que ataque. Torno a insistir que não se trata de ganhar território. Seu objetivo não é Alexandria, nem mesmo Sollum. Peço-lhe apenas que enfrente as forças inglesas que o confrontam.”
Nas palavras dessa ordem estão implícitas a confiança que Mussolini tinha na invasão da Inglaterra pelos alemães. Mas Hitler não planejava agir dessa maneira. Ele não acreditava (talvez com muita clareza) que certa investida seria malograda. Hitler queria forçar os ingleses a pedir a paz. Enviou sua força aérea para destruir os campos de pouso da RAF [“Royal Air Force”, Força Aérea Real Inglesa], mas esperava que os ingleses tivessem ciência de sua derrota e pedissem um acordo. Mussolini perdeu muito com essa decisão, sua guerra curta estava agora comprometida. Teria que fazer valer suas forças, ganhar com suor o que tanto desejava. Urgiu Graziani para atacar com urgência, ou seria demitido. O Marechal ficou entre a cruz e a espada: sabia que um exército como o seu, sem número suficiente de veículos automotores e tanques não podia fazer muito ao avançar a pé pelo deserto egípcio em pleno verão. Seu temor íntimo dos ingleses também o afligia. Mesmo assim, atacou em 14 de setembro, inicialmente objetivando o porto de Sollum, perto da fronteira. Os ingleses, muito dispersos, não puderam reagir e se contentaram em recuar para dentro do Egito. No dia seguinte, os italianos chegaram a Buqbuq, e no dia 16 alcançaram Sidi Barrani, onde Graziani ordenou uma parada, concluindo seu ataque após um avanço de 80 km. Segundo seu relatório, suas linhas de suprimento estavam por demais estendidas, ameaçando seu sucesso.
De volta a Roma, Mussolini preparava mais um golpe, desta vez para “vingar-se” de Hitler por não ter lhe avisado sobre seu ataque à França (e também pela recusa em invadir a Inglaterra). Ele queria tomar a Grécia de assalto, estendendo seu domínio sobre o Mar Egeu e encurtando distâncias até seus domínios nas Ilhas do Dodecaneso [conjunto de ilhas ao sul da Grécia, possessão dos italianos desde a década de 1910]. Mais uma vez, o Duce ordenou a ação sem preparo prévio, o que resultou num impasse desastroso. Em 28 de outubro, sete divisões italianas vindas da Albânia e comandadas pelo General Sebastiano Visconti Prasca cruzaram a fronteira grega. Após poucos dias, seu avanço foi sustado pelos gregos liderados pelo General Alexander Papagos. Os gregos então começaram a empurrar os italianos de volta, num movimento que somente parou com a substituição de Visconti Prasca pelo General Ugo Cavallero, que também assumira o cargo de Chefe de Estado-Maior Geral de Pietro Badoglio.
No Egito, um comboio de armamentos chegou em novembro. Nele estavam 50 tanques pesados Matilda II, que seriam o pilar da força de contra-ataque do General Richard O’Connor. Em 9 de dezembro foi iniciada a “Operação Compasso”, onde os ingleses infligiram aos italianos derrotas consecutivas, recuperando seu território perdido em setembro e adentrando na Líbia, capturando um por um os portos e chegando a meio caminho de Trípoli, quando pararam em fevereiro de 1941, em El Agheila [cidade que marca a divisão oeste-leste da Líbia, entre Tripolitânia e Cirenaica]. Foi essa ação que lançou o mito da “covardia italiana”, propagado pela imprensa inglesa. Mas existem fatores escondidos por trás do estudo raso daquela situação. A aparente superioridade numérica italiana de 7 homens para 1 dos ingleses era uma falácia. A maioria das tropas italianas era colonial, muito mal-treinadas e equipadas. Os ingleses tinham 50 tanques pesados, algo nem sonhado pelos italianos na época, e que também não podiam ser destruídos por suas armas antitanque. Existe também outro fator de peso que nem sempre é levado em conta: os italianos estavam dispersos em guarnições de diversos “pontos fortes” ao longo do litoral líbio. Como se vê, a estratégia de guerra estática dos generais fascistas não era párea para os movimentos rápidos dos blindados ingleses.
Em todo caso, o avanço de O’Connor  foi sustado para que parte de suas forças fosse desviada para a Grécia, que havia aceito a ajuda inglesa. Essa ajuda, no entanto, fez mais mal do que bem para os gregos, pois devido a ela os alemães intervieram na ação. Em abril de 1941, Hitler lançou a “Operação Marita”, que deveria conquistar rapidamente a Iugoslávia e a Grécia. Com o apoio de renovadas forças italianas, os tanques alemães concluíram vitoriosamente a campanha em pouco mais de um mês. A ação novamente se deslocava exclusivamente para a África.
No leste do continente negro, os ingleses partindo do Quênia e do Sudão desfecharam uma ofensiva contra a AOI, fazendo o Duque de Aosta recuar de suas posições. Sem esperança de receber reforços, o Duque se rendeu aos ingleses, enviando-lhes ainda uma carta de agradecimento pelo comportamento cavalheiresco que apresentaram perante as mulheres e crianças.
A história da guerra no Norte da África tomou um rumo diferente em fevereiro de 1941, com a chegada das primeiras forças do Afrika Korps, comandado pelo General Erwin Rommel. Assim que desembarcou, Rommel iniciou uma perseguição aos ingleses auxiliado pelos italianos, que agora contavam com a 132ª Divizione Corazzata Ariete na Líbia. A Ariete era a melhor equipada das divisões blindadas italianas, e tomou parte ativa na luta, e conseguindo resultados bastante produtivos, embora sempre utilizando veículos obsoletos. Essa face das ações do Eixo na África quase nunca é digna de nota, prevalecendo o estudo das ações alemãs. A qualidade dos soldados italianos pode comprovada por esse depoimento do general alemão Friedrich Wilhelm von Mellenthin, do Estado-Maior do Afrika Korps:
“Não tenho nenhuma simpatia por aqueles que falam pejorativamente do soldado italiano, sem parar para considerar as desvantagens nas quais eles operaram. O armamento do exército italiano estava abaixo dos padrões modernos: os tanques eram muito leves e pouco confiáveis do ponto de vista técnico, e os rádios italianos não eram adaptados para a guerra móvel e não podiam funcionar com o veículo em movimento. Durante a campanha do Norte da África as tropas italianas deram muitos exemplos de ousadia e coragem: isso se aplica principalmente àqueles que provinham dos regimentos de cavalaria.”
O avanço do Eixo parou na fronteira egípcia por causa do alongamento das linhas de suprimento. Além disso, Rommel havia atacado sem o total de seus efetivos, num ataque audacioso, mas que não tinha esperanças de chegar à vitória completa. Os ingleses logo contra-atacaram, lançando a “Operação Cruzado”, que atacou as forças ítalo-germânicas não sendo capaz, entretanto, de destruí-las. Rommel executara uma retirada organizada até uma linha segura, onde esperou que seus efetivos se completassem.
A luta no Mar Mediterrâneo foi renhida desde o começo. Em 11 de novembro de 1940, aviões torpedeiros ingleses atacaram a esquadra italiana ancorada em Taranto [porto no sul da Itália], nocauteando três couraçados: Cavour, Diulio e Littorio. O comandante da frota, Almirante Inigo Campioni, foi substituído pelo Almirante Angelo Iachino, assim como Cavagnari foi substituído pelo Almirante Arturo Riccardi na chefia da Regia Marina. Mesmo em desvantagem e não querendo arriscar tanto, Iachino partiu em março de 1941 para confrontar a esquadra inglesa do Almirante Andrew Cunningham ao largo da Grécia, onde se encontram no Cabo Matapan. O resultado desastroso do combate que se seguiu nos dias 28 e 29 ficou registrado como prova da inépcia dos marinheiros italianos e coragem dos ingleses. A Regia Marina perdeu, em combate noturno, três cruzadores: Zara, Fiume e Pola, e dois destróieres. Mas o fundo da história mostra outro lado: Iachino tinha ciência das deficiências de seus navios, e não queria arriscar-se dessa forma no mar sem cobertura aérea adequada e reconhecimento prévio. Foi convencido a ir com a promessa (nunca concretizada) de que esses requisitos seriam atendidos. Mas a vantagem crucial de Cunningham nessa batalha foi o uso de um engenho novo, que já tinha salvado os ingleses na Batalha da Inglaterra: o radar. A esquadra de Alexandria tinha sido equipada recentemente com radares e pôde se aproximar bastante dos italianos sem que estes os percebessem, à noite. Cunningham, então, abriu fogo à queima-roupa contra os navios inimigos, deixando-os virtualmente sem reação. Logo após isso, as esquadras se afastaram e retornaram aos portos. Iachino foi recebido por Mussolini na volta, quando o Duce lhe disse:
“O senhor não teve sobre a esquadra, durante toda a operação, nenhum avião italiano ou alemão... Sua situação era a de um cego a combater adversários de olhos bem abertos. O caso é grave e esta situação não pode continuar... não se concebe que as operações navais se efetuem em águas controladas pelo inimigo, sem esclarecimento e cobertura aérea. Dei ordens ao Chefe do Estado-Maior Geral afim de que mande construir imediatamente um porta-aviões e espero que o tenhamos pronto dentro de um ano. Até lá, a esquadra não deve agir fora do alcance de nossos aviões de caça.”
Iachino dissera depois: “Eu admirava muito a compreensão de Mussolini, mas pensava que, se não tínhamos um porta-aviões, era muito por culpa dele.” De fato, os estaleiros italianos começaram a construção de dois porta-aviões, o Aquila e o Sparviero, mas nenhum deles jamais seria completado. Depois da Batalha do Cabo Matapan, a esquadra inglesa ficou em boa vantagem no Mediterrâneo, mas essa vantagem seria seriamente comprometida pelos italianos, não por imensos couraçados, mas por pequenos e audaciosos homens-rãs.
Em 19 de dezembro de 1941, três torpedos-guiados da Decima MAS entraram silenciosamente no porto de Alexandria. Os corajosos homens-rãs prendem explosivos aos cascos de três navios ingleses. Dentro de poucos minutos, toda a situação naval no Mediterrâneo foi modificada, pois foram afundados os couraçados Queen Elisabeth e Valiant, além de um grande petroleiro. A notícia foi recebida com grande alegria na Itália. Por causa dessas perdas, a esquadra de Alexandria ficou impedida de escoltar comboios de abastecimento até Malta, o que deu início ao sufocamento da ilha e a pôs, mais uma vez, em posição de invasão.
Mais uma vez sem avisar Mussolini com antecedência, Hitler lança um ataque de peso, o maior já realizado, contra a União Soviética [operação Barbarossa, em 22 de junho de 1941]. O Duce, ávido para mostrar-se adepto da “cruzada contra o comunismo”, envia um corpo de exército e um grupo de caças, no que seria conhecido por Corpo di Spedizione Italiano in Russia, ou CSIR. Apesar do sucesso inicial, que apenas seguia o compasso do sucesso alemão, à medida que o inverno se aproximava os erros de composição do CSIR iam se mostrando: sem nenhum aparato contra o frio russo e sem armas de grosso calibre, os italianos estiveram em maus-lençóis nas profundezas da URSS. Em 1942 o contingente foi ampliado [sendo redesignado ARMIR - Armata Italiana in Russia] e colocado sob o comando do General Italo Gariboldi. De acordo com os planos alemães, os italianos deveriam cobrir o flanco esquerdo de seu avanço até Stalingrado [cidade às margens do rio Volga], mas com as dificuldades materiais e morais daqueles soldados num clima tão hostil e numa guerra tão cruel como era o frontleste, o colapso estava por um fio. E em dezembro de 1942 o general russo Giorgi Zhukov lançou a “Operação Urano”, um cerco completo das forças alemãs em Stalingrado. O eixo norte do ataque de Zhukov atingiu em cheio os italianos, que pouco puderam fazer além de recuar ou render-se perante o poderoso ataque soviético. Ao ser capturado, os soviéticos interrogaram um sargento italiano sobre o porquê de seu batalhão ter se entregado sem disparar um único tiro: “Não revidamos os disparos porque achamos que isso seria um erro.” A questão do envolvimento na “causa” da luta aplica-se muito bem a esse depoimento. Para os soldados italianos, aquela não era “sua” guerra, e não valia a pena morrer por ela. As forças que conseguiram fugir ao cerco retornaram à margem do rio Don, de onde empreenderam uma retirada para casa no primeiro semestre de 1943.
A luta da Regia Aeronautica é sempre tomada em comparação com a da Luftwaffe e menosprezada pelos baixos números comparativamente registrados. Mas os pilotos italianos começaram sua guerra com equipamento muito inferior, e quando este foi reposto por algo melhor, nunca atingiu grande disponibilidade. Isso nos leva de volta ao fato de que a compra de diversos tipos de aviões, ao invés da concentração em um tipo, diminuiu a operacionalidade da força aérea italiana. Mesmo assim, diversos pilotos mostraram a qualidade dos aviadores italianos, como Mario Visintini, Luigi Gorrini, Ugo Drago, Adriano Visconti, Teresio Martinoli, Leonardo Ferrulli e Franco Lucchini. Uma característica dos aviadores italianos era sua paixão pela perfeição do vôo, algo incutido na década de 1930 pela doutrina de acrobacia aérea do General Rino Corso-Fougier, que receberia em 1941 o comando da força aérea. Mesmo com tantas complicações operacionais, a Regia Aeronautica realizou grandes feitos durante a guerra. Em outubro de 1940, Ettore Muti liderou quatro bombardeiros Savoia-Marchetti SM.82 num vôo de 15.000 km para bombardear as refinarias de petróleo inglesas em Manama, na Arábia Saudita. O leve, mas bem-sucedido bombardeio, teve o efeito positivo de desviar contingente britânico do front para defender as refinarias. A Itália também foi o único país do Eixo a operar (mesmo que em pequenos números) um bombardeiro estratégico: o quadrimotor Piaggio P.108. Finalmente levando ao pé da letra a teoria de Douhet, os italianos construíram um grande avião de quatro motores, semelhante aos Boeing B-17 norte-americanos, e com eles realizaram ataques a Gibraltar, Argélia e Tunísia. Em 1943 os novos caças da Serie 5 começaram a entrar em combate, finalmente com armamento pesado, capaz de derrubar os grandes bombardeiros americanos, mas em números insuficientes para representar ameaça real.
De volta à África, Rommel renovou seu ataque contra os ingleses, empurrando-os até a linha de Gazala em junho de 1942. Nesse ataque do Eixo, a maior unidade participante era justamente a divisão blindada Ariete, que entrou em batalha super-reforçada, com cinco regimentos blindados, ao invés dos três usuais. De Gazala, Rommel avançou até El Alamein [entroncamento ferroviário egípcio considerado a última parada antes de Alexandria], onde fez uma parada para reorganizar-se. Nesse meio tempo, os ingleses em Malta atacavam com cada vez mais ferocidade os comboios de suprimento inimigos, fazendo com que os reforços de Rommel fossem parar no fundo do Mediterrâneo. Sem ter mais recursos, o Afrika Korps foi pego de surpresa pela ofensiva inglesa do General Bernard Montgomery em 4 de novembro de 1942, onde a Ariete se envolveu no núcleo do ataque e acabou destruída. O que Rommel pôde salvar foi retirado até a fronteira da Tunísia (agora ocupada pelo Eixo), na Linha Mareth. Em 8 de novembro houve um desembarque anglo-americano no Marrocos, e o exército ítalo-germânico logo se viu numa guerra de duas frentes. Com a Ariete destruída, os italianos tinham somente mais duas divisões blindadas na África, a Centauro e a Littorio. Ambas lutaram até a destruição em abril de 1943. Sem suprimentos e confrontados por forças imensamente superiores, os italianos e alemães se renderam na África em 13 de maio de 1943.
O que se seguiu foi o desembarque Aliado na Sicília, em 10 de julho. Apesar de o Comando Supremo enviar tudo que dispunha para reforçar a ilha, acabaram por perdê-la em agosto. E a perda da Sicília seria a gota d’água que levaria à queda de Mussolini. O Duce é preso a mando do rei Vittorio Emmanuele III, e Badoglio assume o comando do governo provisório, garantindo aos alemães que a luta continuaria. Mas Badoglio, secretamente, iniciara conversações de paz com os Aliados, que resultam no armistício de 8 de setembro de 1943. A partir daí a Itália se divide em duas: o sul, pró-Aliados e governado pelo rei e Badoglio, e o norte, governado por Mussolini, na república fantoche de Salò [Republica Sociale Italiana (RSI)].

O pedido de paz italiano foi muito fortuito, pois ao contrário dos alemães, que foram levados à destruição por Hitler em 1945, os italianos foram capazes de se livrar de Mussolini quando o momento urgiu. Mas em setembro de 1943 os alemães agiram rapidamente e ocuparam a metade norte do país, dando o poder (apenas aparentemente) para Mussolini. No sul, controlado pelos Aliados, a atividade militar praticamente cessou, sendo a mais representativa das forças armadas a Aeronautica Co-Belligerante, que era a nova Regia Aeronauticatransformada pelos Aliados. Washington e Londres não cederam em suas intenções de isolar os italianos da batalha, e por mais que estes quisessem ajudar, foram impedidos, permanecendo assim até o fim da guerra.
Na RSI, a situação era um pouco diferente, mas ao mesmo tempo similar. Forças armadas foram constituídas, mas estas foram usadas meramente em funções anti-guerrilha (inclusive a Decima MAS), deixando o combate direto a cargo de unidades alemãs. A exceção pôde ser encontrada na Aeronautica Nazionale Reppublicana (ANR) [Força Aérea da RSI], que lutou com reconhecida bravura pela defesa da base industrial, localizada na porção norte do país. Os esforços de guerra da RSI foram, no entanto, muito prejudicado pelas exigências dos outros doisfronts da guerra: Rússia e Normandia.
Em abril de 1945 Mussolini tentou fugir para a Suíça num comboio alemão, mas foi interceptado por guerrilheiros comunistas, que o capturaram e assassinaram, linchando e expondo seu corpo em praça pública em Milão. A morte de Hitler aconteceria apenas alguns dias depois em Berlim, completamente dominada pelo Exército Vermelho. Uma semana depois, a guerra na Europa terminou, deixando metade do continente em ruínas.
O balanço final da campanha italiana é compreensível se bem estudado. Ao contrário do povo alemão, que tem na obediência uma de suas características mais intrínsecas, o povo italiano possui um sentimento de liberdade e alegria bastante sensível. A aliança com a Alemanha não foi bem vista e aceita por considerável parte da população, e o apoio à declaração de guerra (que pode ser sentida até hoje através da gravação sonora) se deu por entusiasmo momentâneo, visto que para todos, uma vitória fácil e limpa se apresentava. Os italianos se sentiam desconfortáveis lutando contra franceses e ingleses, na opinião de muitos preferiam lutar contra os alemães, como fizeram durante a Primeira Guerra.
Tudo leva a crer que o soldado italiano não queria aquela guerra. Mussolini é que queria um império. Mesmo assim, aqueles soldados lutaram com os meios que lhes estavam disponíveis, combatendo com honra e fazendo sua parte até que a situação se mostrou insuportável. Justiça deve ser feita à memória daqueles que morreram nos campos de batalha da África, Rússia, Grécia e Itália, para não permitir que um embuste histórico seja consolidado e se torne eterno.

Fonte deste artigo: Júlio César Guedes Antunes

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