quarta-feira, 18 de dezembro de 2013


Autor dos clássicos da ficção científica Fahrenheit 451 e As crônicas marcianas, RayBradbury é um escritor que usa as convenções do gênero fantástico para tornar nossos fantasmas mais reais. Nas narrativas incluídas neste A cidade inteira dorme e outros contos, que acaba de ganhar nova edição pela Biblioteca Azul, o ficcionista norte-americano oscila entre o terror psicológico, as alegorias mágicas e a invenção de mundos alternativos – às vezes fundindo-os num único relato, mas sempre fazendo com que a imaginação seja um elemento inerente à realidade. 
A prosa de Bradbury, as viagens espaciais e os habitantes de outros planetas foram incorporados à paisagem natural, neutralizando o efeito espetacular que poderíamos esperar das revoluções tecnológicas. Daí a ironia da cena em que um padre e um rabino discutem sobre a vinda do Messias num mundo que convive com marcianos, ou do conto em que uma velhinha deseja ver Deus de perto e é ludibriada por um agente de turismo que lhe vende bilhete para um foguete enguiçado.
Nas cenas futuristas de Bradbury, as terras alienígenas estão impregnadas pelo tédio das cidadezinhas do meio-oeste norte-americano e já apresentam aquele convívio entre modernidade e decadência que caracteriza as metrópoles contemporâneas. Não é do porvir, portanto, que Bradbury faz derivar o caráter perturbador de sua literatura, mas de uma percepção do sinistro, do demoníaco, que paira sobre suas personagens como uma sensação de catástrofe iminente.
É assim que ele deixa ausentes, em vários contos, elementos “clássicos” da ficção científica, mas os substitui por alucinações e desejos obsessivos que se introduzem no cotidiano. E, como em Fahrenheit 451, Bradbury descreve uma sociedade assolada pelo genocídio e pelo controle da vida privada – mostrando como a ficção científica, nas mãos de um grande escritor, sempre converge para o presente.
O autor:
Ray Bradbury nasceu em 1920, em Waukegan, Illinois, EUA. De 1941 a 1945, colaborou nas revistas Weird Tales, Amazing Stories, Astounding Science Fiction e outras revistas populares. Em 1946, um de seus trabalhos aparece na seleção do ano, The Best American Short Stories of 1946. Desde então, escreveu pelo menos um conto por semana. Seus livros tornaram-no um dos autores mais lidos não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil, França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Argentina e Rússia. Entre suas obras mais conhecidas estão Carnaval negro, seu primeiro livro, publicado em 1947; Crônicas marcianas, O homem ilustrado, Os frutos dourados do sol, Outros contos do país de outubro e F de foguete. Bradbury também escreveu peças teatrais, roteiros cinematográficos, poesias e programas especiais para televisão. Morreu em 6 de junho de 2012.

Nenhum comentário: