quarta-feira, 11 de junho de 2014


“(...) O ruim do passado é que ele não pode ser mudado; o bom é que ele já passou. Podemos dizer também que o passado não passa. Ele convive com a gente em cada decisão que tomamos no presente. O passado só larga de nosso pé quando estamos construindo alguma coisa. Depois que passa o susto, ele ataca de novo. É preciso portanto estar sempre construindo alguma coisa, seja lá o que for.” – Cacá Diegues

Cacá Diegues se viu paralisado e sem ar. Tinha de 5 para 6 anos e havia entrado pela primeira vez no cinema, em sua Maceió natal. Descobriu ali um mundo em tudo diferente do seu, povoado de gente “bonita e elegante”. Esse encontro entre o menino e a tela provocou um encantamento que dura até hoje e que fez surgir um cineasta em permanente mutação, que vive intensamente sua época.
Ao longo de sua rica trajetória, o diretor de Chuvas de verão, Bye Bye Brasil e Deus é brasileiro mostra-se um cineasta que não se deixa aprisionar pela censura, por modismos, ideologias, convenções. A obra do integrante do grupo que criou o Cinema Novo, marco fundador de uma nova maneira de filmar e pensar o Brasil, dialoga com seu tempo — ora explicando-o, ora confrontando-o —, numa busca pela síntese entre reflexão e espetáculo, informação e comunicação, pensamento e beleza.
Em suas memórias, escritas ao longo de sete anos, o autor, com honestidade radical e impressionante lucidez, revisita os tempos de militância estudantil, revela os bastidores da produção de seus filmes e relembra algumas das polêmicas em que se envolveu. Da infância em Alagoas, passando pelos altos e baixos dos casamentos com Nara Leão e Renata de Almeida Magalhães, ao triunfo no Festival de Cannes, Vida de cinema narra mais do que a história da vida e obra de um dos principais cineastas brasileiros. É um relato dos últimos cinquenta anos do país pela voz de Cacá, panorama de uma época marcada pela modernização na década de 1950, a efervescência cultural dos 1960, os anos de chumbo, a luta contra o autoritarismo e a redemocratização.

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