Iniciado nos primeiros meses de 1949, quando o autor passava suas férias na Itália, em Cortina d’Ampezzo, continuado em Finca Vigia, sua fazenda perto de Havana, concluído e revisto em Veneza, nos primeiros meses do ano seguinte, Do outro lado do rio, entre as árvores demonstra uma vez mais a precisão formal com que Ernest Hemingway escrevia: a linguagem direta, as pinceladas curtas, o todo descrito pela exatidão minuciosa do pormenor, as personagens reais, palpáveis quase.
Na época de seu lançamento, os críticos americanos e ingleses receberam com fortes reservas o novo livro do já então famoso Hemingway, embora ele próprio o considerasse uma dos melhores que já escrevera. Em Do outro lado do rio, entre as árvores, o autor, pela primeira vez, explora de forma sentimental o amor, a morte e o choque com o mundo em que vive.
Como protagonista da história, tem-se o coronel Richard Cantwell, da Infantaria dos Estados Unidos, que aos cinquenta anos se vê dominado por um tédio existencial e regressa ao norte da Itália numa espécie de busca do tempo. Depois dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, com famílias ainda chorando pelos mortos, e civis e militares caminhando rancorosos pelas ruas, os relatos de Cantwell impregnam-se de melancolia de quem viu como tudo aconteceu.
Hemingway coloca muito de si próprio na figura do coronel, nesse retorno simbólico à juventude e à paixão por uma linda mulher mais jovem. Contudo, a comunhão de fundo com diversas e curiosas aproximações possíveis entre o protagonista e o romancista não se prende às coincidências factuais, e sim a um sentimento de exaustão em relação às guerras.
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