segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Esta edição traz ainda prefácio e resumo de Guilherme Ignácio da Silva, posfácio de Bernard Brun e um ensaio da professora de Leda Tenório da Motta.
 O Tempo redescoberto', com tradução de Lúcia Miguel Pereira, é o último volume da obra 'Em busca do tempo perdido'. E sendo o último é também o primeiro, o que, à primeira vista, pode parecer estranho. Mas é neste volume que o leitor poderá entender quais foram as ideias que nortearam o narrador desde o primeiro volume, 'No caminho de Swann'. O romance foi originalmente dividido em três partes (seguindo edição de 1927 usada pela tradutora Lúcia Miguel Pereira e atualizada para a presente edição com base no texto de 1989). Na primeira, 'Tansoville', Proust retoma a narração de 'A fugitiva'. O herói se encontra na mansão de Robert e Gilberte Saint-Loup, onde, em seu quarto de hóspede, projeta nas paredes suas reminiscências, como a lembrança do campanário de Combray e a sua relação com Albertine. No convívio da casa, também entra no tema da 'inversão', como a de seu amigo Robert, que tinha amantes para disfarçar sua relação com o violinista Morel. Esses elementos serão retomados ao longo do romance, principalmente na segunda parte, em 'O Sr. Charlus' durante a guerra; suas opiniões, seus divertimentos. Entre as dúvidas pessoais mais profundas do narrador está a dos seus 'dons literários'. Diante do enxame de lembranças, ele se pega pensando na sua própria falta de talento em poder fixar todos os seus pensamentos numa obra literária. Tema que será tratado na última parte do livro. Antes, porém, ele ainda explora a figura de Charlus, tio de Robert, um velho e alquebrado homem, cujos desejos intensos o levam a frequentar uma espécie de 'inferninho', durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A velha nobreza e sua perversão sexual mais uma vez é tratada, mas aqui num dos momentos críticos da vida europeia. No tecido que sua narrativa arma, todos os tempos parecem se encontrar - o íntimo e o histórico -, ou como ele diz, ao perceber as relações entre situações dispersas na memória, 'as lançadeiras ágeis do tempo tecem fios entre as lembranças que nos parecem a princípio mais independentes'. 

Nenhum comentário: