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O livro nos leva em uma viagem para a vida parisiense do final do século 19 – anos antes mesmo da construção da Torre Eiffel –, e segue as aventuras de Georges, que começa a trama tentando sobreviver em um local regado pela riqueza e pobreza. Vindo recentemente após alguns anos da Guerra da Argélia, ele decide buscar boas oportunidades na charmosa Paris.
Com o passar do tempo, depois de achar um emprego mal remunerado que nem o consegue sustentar, ele se vê diante da miséria, ao ter que contar as moedas e sentir fome durante todo o dia para poder comer apenas uma refeição insaciável. Mesmo passando tantas necessidades, Duroy é orgulhoso e muitas vezes arrogante, mas é belo, e ele sabe disso, compreende que é sua melhor ferramenta e que pode usá-la para conseguir as coisas que quer.
Após os períodos de má sorte, ele reencontra um amigo dos tempos de guerra, chamado Charles Forestier. Ao contrário de Georges, Forestier está bem estabilizado, casado e trabalha no jornal La Vie Française, que tem se tornando uma publicação bem importante dentro da opinião política. Vendo as condições do amigo, Charles o chama para jantar em sua casa e diz que talvez possa resolver os seus problemas financeiros.
Ao chegar bem vestido – alugado com o dinheiro emprestado de Forestier – na casa, ele dá o primeiro passo para adentrar na fechada e glamorosa vida da alta sociedade parisiense. Através de sua beleza, ele tenta conquistar todos a sua volta, assim ele conhece três mulheres que terão papel importante no desenvolvimento da trama e em sua vida: Madeleine Forestier (inteligente e misteriosa), Clotilde de Marelle (carente e simpática) e Virginie Walter (tímida e recatada). Cada uma com beleza particular, estilos e atitudes completamente diferentes.
No chique jantar, ainda participa um cronista do La Vie Française e o chefe de Forestier, o astuto Sr. Walter. Durante as conversas, Duroy fala sobre as mais diversas questões que envolvem a Argélia, e a maneira que se exprime toma a atenção de seus participantes. Aproveitando o momento, Charles dá a ideia para o patrão de contratar o seu amigo como um dos novos jornalistas. O Sr. Walter aceita, mas expõe que ele começará escrevendo uma série fantasiosa sobre a Argélia, e que entregue um artigo o mais rápido possível.
Georges que sabe se expressar muito bem com ajuda de sua beleza, tem o grande problema de não conseguir passar suas ideias para o papel, fracassa inutilmente na tentativa e pede ajuda ao seu amigo. Charles que está sem tempo diz que sua esposa lhe dará a ajuda necessária para escrever. Dessa forma, o contato de Georges com Madeleine aumenta.
A linda mulher de Forestier não apenas ajuda, mas dita todo o artigo para Duroy. Ao final do encontro, ela ainda aconselha que ele se aproxime intimamente da casada Clotilde, que fica sozinha em sua casa já que seu marido vive viajando.
Com o artigo de Madeleine, Duroy é contratado e com um adiantamento respira aliviado.
A partir desse momento, a trama de Guy de Maupassante começa a se desenrolar e mostra Duroy penetrando cada vez mais fundo nesse grupo de ricos. Vendo que sua vida ainda não está no mesmo patamar do deles, ele vai sempre querer mais, sempre querer mais dinheiro, sempre querer mais posses. Ele tem um quê da personagem Scarlett O’Hara de “E O Vento Levou”, ao não se contentar com a pobreza e tentando se enriquecer a custa dos outros. Podemos constatar que ele é ignorante em muitos aspectos, porém com a evolução dos acontecimentos o protagonista passa a jogar muito bem os dados da hipocrisia e da manipulação.
Georges consegue encantar Clotilde e sua pequena filha, que nunca antes havia sido tão sociável com outra pessoa, com uma atitude despretensiosa, a menina o chama de “Bel Ami” – que significa lindo amigo – nome que se tornará seu apelido e virá da boca de todas as principais mulheres.
Clotilde torna-se sua amante, e até o sustenta diante dos problemas econômicos do seu amor. Georges se aproveita dela como das outras duas mulheres que ainda serão suas na cama: Madeleine Forestier e Virginie Walter.
Porém, será a bela Clotilde que sentirá o verdadeiro amor por ele, enquanto Madeleine é extremamente desinteressada e Virginie é obsessiva.
Mesmo sentido algo por “Clô”, Bel Ami é um verdadeiro canalha, seu nome deveria até ser sinônimo no dicionário. Como no livro temos conhecimento de seus pensamentos, suas atitudes tornam-se mais malévolas e muitas vezes planejadas. Maupassant cria um ritmo que nos coloca curioso para saber qual será o próximo passo de Duroy.
Maupassant através de suas páginas crítica não só a sociedade da época, mas mostra como o Jornal, poderoso meio de comunicação da época, podia ser manipulado pelos seus interesses e manipular os seus leitores.
Outro destaque impecável é a reprodução da época através das palavras do autor, que detalhista, especifica até como são as joias e os vestidos das mulheres.
Por fim, o mais legal nessa edição da editora Landmark é o livro ser bilíngue, ou seja, além de toda a história em português, temos a versão original na língua francesa.
O livro “Bel Ami” é uma interessante crítica à sociedade parisiense, que mostra a ascensão de um homem sem escrúpulos à custa de mulheres.
O livro foi adaptado no cinema quatro vezes.
A primeira adaptação do livro foi feita por alemãs ainda na época do Nazismo, e é quase uma sangria ao original, a personagem Virginie Walter que é uma das peças centrais sequer existe.
Georges continua sendo um canalha, mas quase não tem uma relação com Clotilde e é apaixonado por Madeleine, que por sua vez é amante de um deputado.
Podemos concluir que há mudanças radicais no enredo criado por Guy de Maupassant.
Apesar de ter George Sanders (vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por “A Malvada”) e Angela Lansbury (indicada a 3 Oscars e lenda do teatro da Broadway), mais uma vez a história de Guy de Maupassant é alterada (ou até podemos dizer que é assassinada).
No filme, Clotilde e a Madame Walter são duas viúvas, enquanto que no livro são casadas. Isso ocorre porque os censores da época não permitiram mostrar explicitamente o adultério. Já prostituta Rachel, que tem um caso com Duroy durante as vacas magras, no filme é uma dançarina.
Na primeira parte do romance há um duelo do qual Duroy participa e sai ileso, já no filme o duelo surge no final. Para quem é fã do livro vai se sentir realmente incomodado.
A adaptação austríaca mantém os personagens originais, e coloca grande parte do enredo parecido com do livro.
Porém, tira muito das atitudes malévolas de Georges. Além disso, o relacionamento dele com as três mulheres é exposto de forma bem leve.
Em comparação com as adaptações anteriores, sua trama é a que chega mais perto da história original do livro. Porém, a trama é colocada de forma superficial, consequentemente os seus personagens têm a profundidade de uma colher de chá. Além disso, os altos e baixos de Georges acontecem em um período muito rápido.
É aquela velha história da adaptação, onde o calmo tempo de um livro é colocado de forma apressada nas telonas, e isso causa estranheza imediata (Leia a crítica sobre o filme. Clique aqui).
A construção da direção de arte se deve muito ao detalhismo de Guy de Maupassant, mesmo assim, algumas especificações do autor no que diz respeito às características físicas dos personagens, sequer foram reproduzidas. Um exemplo, Georges possui bigode e seus cabelos são bem claros – bem diferente de Robert Pattinson. Além disso, foram alteradas algumas características psicológicas/físicas das três principais mulheres.
Um detalhe que passa despercebido e que se você pensar com calma é o seguinte: os personagens se encontram em Paris, são franceses, usam palavras francesas, mas falam inglês! Algo desconexo, que funciona unicamente na sétima arte.
Algo que temos somente no livro e dificilmente apareceria em um filme, são os pensamentos malévolos e interesseiros de Georges, que tomam uma profundidade maior se compararmos com as atitudes vistas na tela.
Outro detalhe deixado de fora são as locações, grande parte do filme foi filmado em Londres. Por isso, os personagens do filme aparecem em demasia dentro de casas e bares. Isso é contrastante, já que os personagens do livro estão constantemente andando ao ar livre e passeando pelo Bosque de Bolonha – lugar várias vezes descrito nas páginas.
Como em todo o filme, personagens do livro são cortados. E em “Bel Ami – O Sedutor” não é diferente, não participam Jacques Rival, os pais de Georges e Norbert de Varenne – este último ganha destaque em uma parte do livro e influencia os pensamentos de Duroy.
“Bel Ami” é o título perfeito que não apenas dá o apelido de Georges, mas é uma ironia explicita de um comportamento nada amigável de um homem que se intitula ”lindo amigo.”
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