"Arquivos da ditadura" com conteúdo da edição digital da obra de Elio Gaspari
Nos primeiros anos após o golpe militar de 1964, a ditadura não se assumia ainda como ditadura. É do que trata A ditadura envergonhada. Mas, com a edição do AI-5, no final de 1968, suspendendo direitos garantidos pela Constituição, ela se revela: é o período sintetizado em A ditadura escancarada. Os dois livros formam o conjunto As ilusões armadas, Prêmio Ensaio, Crítica e História Literária de 2003 da Academia Brasileira de Letras (ABL).
A biografia dos generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, com destaque para a articulação que os levou ao Planalto e para a derrota do partido da ditadura nas eleições de 1974, é o tema de A ditadura derrotada. E por que os dois generais resolveram desmontar as engrenagens dessa mesma ditadura com um projeto de abertura política está em A ditadura encurralada. Os dois livros formam o conjunto O Sacerdote e o Feiticeiro.
A biografia dos generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, com destaque para a articulação que os levou ao Planalto e para a derrota do partido da ditadura nas eleições de 1974, é o tema de A ditadura derrotada. E por que os dois generais resolveram desmontar as engrenagens dessa mesma ditadura com um projeto de abertura política está em A ditadura encurralada. Os dois livros formam o conjunto O Sacerdote e o Feiticeiro.
Para ler 1° capitulo clique nas imagens Em comparação a outros golpes militares ocorridos na América Latina, o que derrubou o presidente brasileiro João Goulart, o Jango, foi peculiar. Com poucos tiros, sem execuções ou guerra civil, o processo foi deflagrado na tarde de 31 de março de 1964, quando o general Olympio Mourão Filho marchou com suas tropas de Juiz de Fora (MG) para o Rio de Janeiro com a intenção de tirar Jango do poder. No dia 1o de abril Jango estava virtualmente deposto e o novo regime era reconhecido pelos aliados americanos.
Doze anos depois do lançamento de A ditadura envergonhada, primeiro livro de uma série escrita pelo jornalista Elio Gaspari sobre os “anos de chumbo”, sua reedição revista e ampliada traz alguns novos elementos para a compreensão do período. A narrativa começa em 1964 e vai até a edição do Ato Institucional no 5, em 1968.
Uma das novidades é o revelador registro de uma reunião na Casa Branca com a participação do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy. Gravações só agora conhecidas mostram que, em 7 de outubro de 1963, ou seja, 46 dias antes de ser assassinado em Dallas, no Texas, Kennedy discutiu com seus auxiliares a possibilidade de uma ação militar americana caso surgisse um governo esquerdista no Brasil.
Ela não seria necessária. Bastou o pronto reconhecimento do novo governo enquanto João Goulart ainda estava em território brasileiro. Ficou na história a operação batizada de Brother Sam, um ostensivo apoio militar que o sucessor de Kennedy, Lyndon Johnson, mobilizou para favorecer os militares rebelados e que não chegou a ser utilizado.
Entre 1969 e 1973, a tortura de presos políticos tornou-se política do Estado e a meta do governo era o aniquilamento da esquerda armada. A ditadura escancarada, segundo volume da série de Elio Gaspari sobre os “anos de chumbo”, trata desse período, o mais violento do regime militar.
Esta reedição de A ditadura escancarada atualiza informações sobre a guerrilha do Araguaia, um projeto levado para a região amazônica pelo PC do B que pretendia enfrentar a ditadura a partir de uma guerra revolucionária popular saída do campo.
Ao tratar das sevícias, Gaspari diz que “o regime fazia da tortura de presos seu instrumento primordial de investigação, vangloriava-se de seus resultados e não pretendia mudar de posição”. De 1964 até 1968, foram apresentadas 308 denúncias de tortura por presos políticos nos tribunais militares do país. Em 1969, elas somavam 1.027, chegando a 1.206 em 1970.
Essa linha, imposta pelo presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), corria paralela a uma forte expansão econômica em todo o país. Em 1973, auge da repressão, o PIB brasileiro crescia 14%, índice nunca antes registrado. Era o chamado “milagre econômico”. O “milagre econômico” e os “anos de chumbo” foram simultâneos, mostra Gaspari no livro: “Ambos reais, coexistiram negando-se. Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta de admitir) que houve o outro”.
A ascensão do general Ernesto Geisel à Presidência da República, em 15 de março de 1974, tendo a seu lado o general Golbery do Couto e Silva no cargo de chefe do Gabinete Civil, marcou a volta ao poder dos dois militares que, dez anos antes, ajudaram a pavimentar o caminho que levou à implantação da ditadura no Brasil. Agora, eles voltavam para restabelecer o primado da Presidência da República sobre os militares.
Os dois generais já eram próximos desde antes do governo de Castello Branco (1964-1967), quando Geisel passou a chefiar o Gabinete Militar e Golbery fundou e dirigiu o temido Serviço Nacional de Informações (o SNI).
Geisel recebeu a faixa presidencial de Emílio Garrastazu Médici, um general que entregara o poder a três ministros e conduzira-se como um árbitro. Era uma ditadura sem ditador. Geisel, pelo contrário, comandava minuciosamente o governo. Quando revogou o AI-5, em 1978, havia um ditador sem ditadura.
Quase a metade de A ditadura derrotada é dedicada a biografar os dois personagens principais da trama, que vinham da classe média gaúcha. Geisel era filho de um imigrante alemão pobre, e Golbery, neto de um prateiro de Rio Grande. Nas grandes divisões da primeira metade do século passado, Geisel simpatizava com Mussolini; Golbery, com a Revolução Russa.
No dia 12 de outubro de 1977, quando exonerou o general Sylvio Frota do cargo de ministro do Exército, o presidente Ernesto Geisel pôs um ponto final na anarquia militar que tomara conta do país. Era o confronto – que a ditadura vinha evitando desde 1964 – de duas noções. Segundo Frota, o presidente da República era um delegado dos comandantes militares. Segundo Geisel, os comandantes militares eram subordinados do presidente da República.
A ditadura encurralada, quarto volume da série sobre os “anos de chumbo” escrita por Elio Gaspari, narra como Geisel e o general Golbery do Couto e Silva, ministro chefe do Gabinete Civil, conseguiram vencer essa guerra, que o marechal Castello Branco perdera e seu sucessor, Costa e Silva, nela se rendera.
Publicado originalmente em 2004, o livro narra os vários episódios que ajudaram a azedar a relação entre a Presidência e setores das Forças Armadas. Um deles é o assassinato do jornalista paulista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, nas dependências de uma unidade do Exército, onde comparecera para depor. Morto sob tortura, era, na conta de Gaspari, o 38o preso a se “suicidar” numa prisão da ditadura, o 18o a “enforcar-se” na cela.
Doze anos depois do lançamento de A ditadura envergonhada, primeiro livro de uma série escrita pelo jornalista Elio Gaspari sobre os “anos de chumbo”, sua reedição revista e ampliada traz alguns novos elementos para a compreensão do período. A narrativa começa em 1964 e vai até a edição do Ato Institucional no 5, em 1968.
Uma das novidades é o revelador registro de uma reunião na Casa Branca com a participação do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy. Gravações só agora conhecidas mostram que, em 7 de outubro de 1963, ou seja, 46 dias antes de ser assassinado em Dallas, no Texas, Kennedy discutiu com seus auxiliares a possibilidade de uma ação militar americana caso surgisse um governo esquerdista no Brasil.
Ela não seria necessária. Bastou o pronto reconhecimento do novo governo enquanto João Goulart ainda estava em território brasileiro. Ficou na história a operação batizada de Brother Sam, um ostensivo apoio militar que o sucessor de Kennedy, Lyndon Johnson, mobilizou para favorecer os militares rebelados e que não chegou a ser utilizado.
Entre 1969 e 1973, a tortura de presos políticos tornou-se política do Estado e a meta do governo era o aniquilamento da esquerda armada. A ditadura escancarada, segundo volume da série de Elio Gaspari sobre os “anos de chumbo”, trata desse período, o mais violento do regime militar.
Esta reedição de A ditadura escancarada atualiza informações sobre a guerrilha do Araguaia, um projeto levado para a região amazônica pelo PC do B que pretendia enfrentar a ditadura a partir de uma guerra revolucionária popular saída do campo.
Ao tratar das sevícias, Gaspari diz que “o regime fazia da tortura de presos seu instrumento primordial de investigação, vangloriava-se de seus resultados e não pretendia mudar de posição”. De 1964 até 1968, foram apresentadas 308 denúncias de tortura por presos políticos nos tribunais militares do país. Em 1969, elas somavam 1.027, chegando a 1.206 em 1970.
Essa linha, imposta pelo presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), corria paralela a uma forte expansão econômica em todo o país. Em 1973, auge da repressão, o PIB brasileiro crescia 14%, índice nunca antes registrado. Era o chamado “milagre econômico”. O “milagre econômico” e os “anos de chumbo” foram simultâneos, mostra Gaspari no livro: “Ambos reais, coexistiram negando-se. Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta de admitir) que houve o outro”.
A ascensão do general Ernesto Geisel à Presidência da República, em 15 de março de 1974, tendo a seu lado o general Golbery do Couto e Silva no cargo de chefe do Gabinete Civil, marcou a volta ao poder dos dois militares que, dez anos antes, ajudaram a pavimentar o caminho que levou à implantação da ditadura no Brasil. Agora, eles voltavam para restabelecer o primado da Presidência da República sobre os militares.
Os dois generais já eram próximos desde antes do governo de Castello Branco (1964-1967), quando Geisel passou a chefiar o Gabinete Militar e Golbery fundou e dirigiu o temido Serviço Nacional de Informações (o SNI).
Geisel recebeu a faixa presidencial de Emílio Garrastazu Médici, um general que entregara o poder a três ministros e conduzira-se como um árbitro. Era uma ditadura sem ditador. Geisel, pelo contrário, comandava minuciosamente o governo. Quando revogou o AI-5, em 1978, havia um ditador sem ditadura.
Quase a metade de A ditadura derrotada é dedicada a biografar os dois personagens principais da trama, que vinham da classe média gaúcha. Geisel era filho de um imigrante alemão pobre, e Golbery, neto de um prateiro de Rio Grande. Nas grandes divisões da primeira metade do século passado, Geisel simpatizava com Mussolini; Golbery, com a Revolução Russa.
No dia 12 de outubro de 1977, quando exonerou o general Sylvio Frota do cargo de ministro do Exército, o presidente Ernesto Geisel pôs um ponto final na anarquia militar que tomara conta do país. Era o confronto – que a ditadura vinha evitando desde 1964 – de duas noções. Segundo Frota, o presidente da República era um delegado dos comandantes militares. Segundo Geisel, os comandantes militares eram subordinados do presidente da República.
A ditadura encurralada, quarto volume da série sobre os “anos de chumbo” escrita por Elio Gaspari, narra como Geisel e o general Golbery do Couto e Silva, ministro chefe do Gabinete Civil, conseguiram vencer essa guerra, que o marechal Castello Branco perdera e seu sucessor, Costa e Silva, nela se rendera.
Publicado originalmente em 2004, o livro narra os vários episódios que ajudaram a azedar a relação entre a Presidência e setores das Forças Armadas. Um deles é o assassinato do jornalista paulista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, nas dependências de uma unidade do Exército, onde comparecera para depor. Morto sob tortura, era, na conta de Gaspari, o 38o preso a se “suicidar” numa prisão da ditadura, o 18o a “enforcar-se” na cela.
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