sábado, 3 de agosto de 2013





“Se queres ser universal, escreve sobre tua aldeia” (Tolstoi). E eu acrescento que se quiseres falar sobre a alma humana, abre ao mundo a tua. E é isto que Daniel Barros consegue em “O Sorriso da Cachorra”, um romance envolvente no qual apresenta ao leitor a leveza e a fascinação apaixonada de dois jovens. Mas por trás desta delicadeza temática existem dramas masculinos universais: o primeiro amor, o deslumbramento, a dor, a decepção, a esperança que renasce, o fluxo do futuro e o destino insondável que não respeita sonhos ou desejos.
Na história, Patrícia é a encarnação perfeita da alma de André, mas a necessidade de autoafirmação masculina não o impede de fragmentá-la e dividi-la em outros corpos e rostos. O tema do alcoolismo como elemento de suporte emocional para a alegria e a tristeza também deixa transparecer a insegurança juvenil que André procura superar de todas as formas para dar o melhor de si, seja como estudante, seja como profissional e adulto.
Com forte cor local, o livro caminha com o leitor pelo cenário das paisagens de Recife, e outras localidades nordestinas, com suas praias, bares, rotinas e monumentos. Mas também tinge-se de crítica social e política, mostrando o descaso com o trabalhador sertanejo e a crueldade ‘senhores da cana” e da fome. Por tudo isto, considero este livro com um daqueles que tem tudo para tocar profundamente aos leitores e se fazer presente na memória por muito tempo, se não para toda vida – como bem o fazem os romances universais.

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