Se a cultura ocidental valoriza a justiça e a paz, a realidade exige a adoção de táticas de guerra para enfrentar a competição em todos os setores da vida moderna. Para encarar os desafios de um dia a dia cada vez mais caótico e com exigências que derrubam os ideais de cooperação e solidariedade, nada como refletir sobre o exemplo de grandes comandantes – militares ou não –, acredita o autor do bestseller As 48 leis do poder, Robert Greene, que lança agora 33 estratégias de guerra – Aprenda com as batalhas da história e vença os desafios cotidianos.
Greene entende que a ideologia pacifista leva à imobilidade diante de rivais prontos a aproveitar qualquer descuido de quem está ao seu lado para alcançar objetivos de ascensão pessoal ou profissional. “Fomos treinados para a paz e não nos preparamos para o confronto no mundo real. Aprendemos que os agressivos pagam o preço social do isolamento e da impopularidade, enquanto os valores de harmonia, cooperação e a importância de se encaixar em um grupo são perpetuados sutilmente”, pondera Greene na introdução do livro. O grupo que protege e cuida do indivíduo, seja o Estado, a família, a empresa, é uma imagem obsoleta: estamos desamparados e precisamos estar preparados para adversários prontos a nos derrubar, afirma o escritor, especialista em livros de estratégia e motivacionais.
Lembrando que sociólogos e psicólogos percebem que através dos conflitos surgem soluções para os problemas e a conciliação das diferenças, Greene observa que guerrear não é a resposta instintiva e truculenta, fruto da força bruta, do impulso agressivo irreprimível. A guerra é mais do que uma reação defensiva, diz Greene, mas uma estratégia que exige aprendizagem e muito planejamento. Até partidários da não violência, como Ghandi, que pregava a resistência pacífica na luta pela saída dos ingleses do território indiano, estão entre os estrategistas citados pelo escritor.
As 33 estratégias propostas estão divididas em cinco partes, cada uma abordando um tipo de guerra – auto dirigida, organizacional, defensiva, ofensiva e suja (não convencional) – em páginas repletas de citações de filósofos, literatos, pensadores, políticos e artistas. Algumas surpreendem, como a do pintor Salvador Dalí, cujo talento artístico era tão grande quanto sua capacidade de autopromoção. Dalí recomendava a destruição dos que têm “mais afinidade com você, se você decidir travar uma guerra pelo triunfo de sua individualidade”.
Robert Greene passeia por diferentes épocas históricas, passando da Antiguidade para o passado recente, ao comparar táticas militares com posicionamentos políticos, como o filósofo grego Xenofonte e a ex-primeira-ministra britânica Margareth Thatcher. Alguns dos pontos que levanta, como a necessidade de reconhecer os inimigos dentro da própria equipe de trabalho, parecem, à primeira vista, ir de encontro às regras de gestão. No entanto, Greene recorda numerosos fracassos políticos ocorridos quando existe polarização na liderança. O livro exalta figuras como Gengis Khan, Alexandre da Macedônia, Napoleão Bonaparte, Lorde Nelson, T.E. Lawrence, sem esquecer-se do pensamento lógico de Homero e Nietzsche. Afinal, a arte do comando, para Robert Greene, requer mais do que destreza em combate e no manejo das armas, sendo um exercício contínuo de observação, pesquisa e autoconhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário