domingo, 2 de março de 2014

Lido
Jane era uma jovem de 17 anos que se sentia totalmente desconfortável no mundo feminino. Ela era exatamente o oposto de sua irmã Solay: não era linda, muito menos graciosa, hábil ou obsequiosa. Jane era diferente, sonhava em viajar pelo mundo e sabia ler em latim, algo totalmente atípico para as mulheres da época.
Porém, para a infelicidade de Jane, estava prometida em casamento a um mercador. A vida de casada a assustava muito. Ela não entendia como seria possível aprender todas as esquisitices de esposa, muito menos como seria capaz de ser mãe, já que nunca teve instinto materno aflorado.
E foi justamente no parto de Solay que Jane surtou. Ao ouvir os berros da irmã dando a luz, Jane saiu correndo apavorada, enfaixou seus seios, tirou o vestido e colocou calça, uma túnica e uma capa, pegou um pouco de mantimento e desatou a correr, fugindo do castelo no qual morava. Assim que tomou essa atitude percebeu que esse sempre fora o seu desejo. Ela não pertencia àquele mundo de mulheres, cheio de responsabilidades que nunca seria capaz de assumir. Jane queria ser um rapaz, ter o direito de ir e vir e fazer o que quisesse, sem as limitações impostas a uma dama.
"O poder da mão estendida não vinha fácil. O horizonte só era conquistado com trabalho árduo, passos curtos e vitórias a duras penas e inexplicáveis."
A partir de então, uma nova realidade se fez a sua frente, cheia de possibilidades. Quem Jane poderia ser? No que ela poderia trabalhar? Jane se transformou em John, e foi assim que ela viu Duncan pela primeira vez, que de imediato a confundiu com um garoto. Sorte a dela ter cortado seus cabelos loiros curtinhos. Mesmo contra a sua vontade, Duncan era a sua única esperança de sobrevivência em Cambridge. Ela precisava de um mentor e de um lugar para morar para melhorar as suas habilidades para futuramente trabalhar na corte, como um escrivão, servindo ao Rei. Mas o que aconteceria se o segredo de Jane viesse à tona, estando ela a mercê de tantos homens, vulnerável e indefesa, num mundo em que uma mulher não se passava de um mero objeto destinado a satisfação masculina?

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