* Loss Leader é uma estratégia do varejo de vender um produto a preço de custo ou mesmo com prejuízo para atrair consumidores que eventualmente comprarão também outros produtos.
Livros, aqueles documentos de papel amarrados, fazem parte de um ecossistema, um ecossistema que era perfeito, e que está morrendo. E está morrendo rápido. Ideias e palavras não vão desaparecer no futuro próximo. Mas, com a morte do ecossistema, não só os sistemas corporativos ao redor do livro de papel vão desaparecer, mas também muitos dos elementos mais apreciados do consumo de livros.
A LIVRARIA, como conhecemos, está condenada porque muitos destes estabelecimentos vão passar da condição de ganhar um pouco dinheiro a cada dia, para a de perder um pouco diariamente. E é difícil sustentar perdas diárias por muito tempo, especialmente quando não se está bem capitalizado, quando não é possível usar estratégias de loss leader* na loja e quando não se vê uma luz no fim do túnel.
A morte da livraria é consequência da migração para e-books (não é necessário que todos os livros passem para o formato eletrônico; só o suficiente para favorecer as mudanças) e também do fato de que a compra e seleção de livros online é uma alternativa superior. Se a função de uma livraria é realmente oferecer todos os livros e vendê-los de forma rápida e barata, então a livraria fracassou.
A BIBLIOTECA está mancando, em parte porque muitas bibliotecas sucumbiram e viraram uma alternativa gratuita à Netflix ou à falida Blockbuster. Com cada vez menos pessoas mergulhando no mar dos livros impressos, as bibliotecas não terão escolha a não ser parar de encher este mar com itens caros que poucos usam.
A EDITORA TRADICIONAL está culturalmente conectada às livrarias. São elas as clientes das editoras, não você, leitor (você já tentou ligar para um serviço de atendimento ao consumidor de uma editora?). Com o desaparecimento da livraria, e como a natureza aberta das plataformas de e-books recompensa indivíduos e entidades menores com grande mobilidade, muita gente nas editoras tradicionais vai perceber que suas habilidades particulares não são mais valorizadas da forma como costumavam ser.
TAREFA ÚNICA é um anacronismo. Assim que os e-books passaram do Kindle para o iPad, a mágica de ler foi ameaçada pela oportunidade (“só um minutinho”) para dar uma olhada no e-mail, jogar “Words with Friends” ou ver uma mensagem de texto que entrou.
LER POR PRAZER é uma atividade basicamente extinta depois de quatro gerações de filosofias de ensino não muito boas. Ao tratar um livro como lição de casa e como punição, criamos pessoas que não gostam de ler. Mais de uma vez ouvi de amigos: “Você vai ficar contente de saber disso, até terminei de ler seu livro.” Aposto que ninguém fala isso para o Laurence Fishburne sobre seu novo filme. Não há um problema real de pirataria de e-books porque a maioria das pessoas não acha que vale a pena roubar livros.
A ADORADA PRATELEIRA (ou parede) de livros é menos aprovada e respeitada do que antes. É bem menos provável que julguemos alguém pela posse e conhecimento de livros hoje do que em qualquer momento dos últimos quinhentos anos. No passado, esta prateleira criou justaposições, possibilidades e provocações quando você precisava. Há dez gerações, só os ricos e os educados tinham livros. Hoje, eles estão de graça em mesas de reciclagem.
A RESPOSTA PAVLOVIANA vai desaparecer. Você vai a uma livraria, uma estufa quieta, civilizada e respeitável de ideias. Uma pessoa o conecta, usando as mãos, com um livro, embrulha, cobra uma quantia surpreendentemente baixa de dinheiro e você vai para casa, pronto para se enroscar por cinco, seis ou trinta horas, para se submergir em um novo mundo ou em um novo conjunto de ideias. E depois vai pegar aquele volume, que foi criado para durar um século sem nenhuma tecnologia, vai emprestá-lo a um amigo ou colocá-lo no lugar certo na sua estante. Seu cérebro foi programado para estar aberto a estas ideias, a mostrar respeito pelo volume em si por causa de todos os elementos do ecossistema, do autor que demorou um ano para escrever ao editor que cuidou do livro, do diagramador ao gráfico e ao livreiro… E todos eles se alinharam perfeitamente para criar este método de consumo.
Nenhuma destas mudanças, sozinha, é suficiente para destruir o respeitável formato de distribuição de informações e o marco cultural que é o livro. Mas e todas elas juntas? Estou escrevendo este texto em um trem cheio de pessoas estudadas, de classe média alta, de todos os gêneros e etnias (ou seja, compradores de livros até recentemente). Consigo ver umas 40 pessoas e 34 estão usando aparelhos eletrônicos, duas estão dormindo e apenas uma está lendo um livro tradicional.
Sim, estamos entrando em uma nova era dourada para os livros, uma com mais livros e e-books escritos e lidos do que em qualquer momento do passado. Não, os livros não serão completamente eliminados, assim como os discos de vinis ainda existem por aí (uma nova loja de vinis está abrindo na minha cidadezinha). Mas, por favor, não aposte que algum elemento deste querido ecossistema vai voltar com força.
É uma traição à minha tribo escrever tudo isso? Veja bem, não estou falando que deveríamos nos livrar do ecossistema inteiro, mas estou querendo encorajar as pessoas para que não passem muito tempo tentando salvá-lo. Primeiro, é uma batalha perdida e, o mais importante, temos oportunidades maiores à frente.
Há vinte anos, vi a web e a ignorei. Disse que era uma imitação barata do serviço online Prodigy, mais lenta e sem um modelo de negócios. Em parte, não consegui entender o que vi. Mas, de forma geral, o que eu queria era que o Prodigy (meu cliente) tivesse sucesso, juntamente com um modelo de negócios que eu compreendia. Como resultado da minha arrogância, perdi a oportunidade de aproveitar um novo meio.
Tenho medo que nossas conexões culturais e corporativas aos livros como sistema de entrega possam nos cegar em relação às alternativas.
Não me sinto tão amargurado assim, já que estamos trocando nossos livros por algumas fabulosas alternativas que estão misturadas com coisas que são perda de tempo. Mas sim, depois de 500 anos, depois de participar da construção não de uma, mas de várias indústrias ao redor da criação, publicação, distribuição e armazenamento de livros, eu me sinto um pouco nostálgico.
Chamei este texto de “Um Fim” ao contrário de “O Fim”. Como sempre, vamos nos reinventar. Ainda precisamos de ideias e ideias precisam de recipientes. Desenvolvemos muitas formas para que estas ideias se espalhem e tenham impacto, e agora depende de nós descobrir como construir um ecossistema ao redor delas.
é um especialista em marketing e autor dos livros Quebre as regras e reinvente, Você é indispensável? e O melhor do mundo, entre outros.
Livros, aqueles documentos de papel amarrados, fazem parte de um ecossistema, um ecossistema que era perfeito, e que está morrendo. E está morrendo rápido. Ideias e palavras não vão desaparecer no futuro próximo. Mas, com a morte do ecossistema, não só os sistemas corporativos ao redor do livro de papel vão desaparecer, mas também muitos dos elementos mais apreciados do consumo de livros.
A LIVRARIA, como conhecemos, está condenada porque muitos destes estabelecimentos vão passar da condição de ganhar um pouco dinheiro a cada dia, para a de perder um pouco diariamente. E é difícil sustentar perdas diárias por muito tempo, especialmente quando não se está bem capitalizado, quando não é possível usar estratégias de loss leader* na loja e quando não se vê uma luz no fim do túnel.
A morte da livraria é consequência da migração para e-books (não é necessário que todos os livros passem para o formato eletrônico; só o suficiente para favorecer as mudanças) e também do fato de que a compra e seleção de livros online é uma alternativa superior. Se a função de uma livraria é realmente oferecer todos os livros e vendê-los de forma rápida e barata, então a livraria fracassou.
A BIBLIOTECA está mancando, em parte porque muitas bibliotecas sucumbiram e viraram uma alternativa gratuita à Netflix ou à falida Blockbuster. Com cada vez menos pessoas mergulhando no mar dos livros impressos, as bibliotecas não terão escolha a não ser parar de encher este mar com itens caros que poucos usam.
A EDITORA TRADICIONAL está culturalmente conectada às livrarias. São elas as clientes das editoras, não você, leitor (você já tentou ligar para um serviço de atendimento ao consumidor de uma editora?). Com o desaparecimento da livraria, e como a natureza aberta das plataformas de e-books recompensa indivíduos e entidades menores com grande mobilidade, muita gente nas editoras tradicionais vai perceber que suas habilidades particulares não são mais valorizadas da forma como costumavam ser.
TAREFA ÚNICA é um anacronismo. Assim que os e-books passaram do Kindle para o iPad, a mágica de ler foi ameaçada pela oportunidade (“só um minutinho”) para dar uma olhada no e-mail, jogar “Words with Friends” ou ver uma mensagem de texto que entrou.
LER POR PRAZER é uma atividade basicamente extinta depois de quatro gerações de filosofias de ensino não muito boas. Ao tratar um livro como lição de casa e como punição, criamos pessoas que não gostam de ler. Mais de uma vez ouvi de amigos: “Você vai ficar contente de saber disso, até terminei de ler seu livro.” Aposto que ninguém fala isso para o Laurence Fishburne sobre seu novo filme. Não há um problema real de pirataria de e-books porque a maioria das pessoas não acha que vale a pena roubar livros.
A ADORADA PRATELEIRA (ou parede) de livros é menos aprovada e respeitada do que antes. É bem menos provável que julguemos alguém pela posse e conhecimento de livros hoje do que em qualquer momento dos últimos quinhentos anos. No passado, esta prateleira criou justaposições, possibilidades e provocações quando você precisava. Há dez gerações, só os ricos e os educados tinham livros. Hoje, eles estão de graça em mesas de reciclagem.
A RESPOSTA PAVLOVIANA vai desaparecer. Você vai a uma livraria, uma estufa quieta, civilizada e respeitável de ideias. Uma pessoa o conecta, usando as mãos, com um livro, embrulha, cobra uma quantia surpreendentemente baixa de dinheiro e você vai para casa, pronto para se enroscar por cinco, seis ou trinta horas, para se submergir em um novo mundo ou em um novo conjunto de ideias. E depois vai pegar aquele volume, que foi criado para durar um século sem nenhuma tecnologia, vai emprestá-lo a um amigo ou colocá-lo no lugar certo na sua estante. Seu cérebro foi programado para estar aberto a estas ideias, a mostrar respeito pelo volume em si por causa de todos os elementos do ecossistema, do autor que demorou um ano para escrever ao editor que cuidou do livro, do diagramador ao gráfico e ao livreiro… E todos eles se alinharam perfeitamente para criar este método de consumo.
Nenhuma destas mudanças, sozinha, é suficiente para destruir o respeitável formato de distribuição de informações e o marco cultural que é o livro. Mas e todas elas juntas? Estou escrevendo este texto em um trem cheio de pessoas estudadas, de classe média alta, de todos os gêneros e etnias (ou seja, compradores de livros até recentemente). Consigo ver umas 40 pessoas e 34 estão usando aparelhos eletrônicos, duas estão dormindo e apenas uma está lendo um livro tradicional.
Sim, estamos entrando em uma nova era dourada para os livros, uma com mais livros e e-books escritos e lidos do que em qualquer momento do passado. Não, os livros não serão completamente eliminados, assim como os discos de vinis ainda existem por aí (uma nova loja de vinis está abrindo na minha cidadezinha). Mas, por favor, não aposte que algum elemento deste querido ecossistema vai voltar com força.
É uma traição à minha tribo escrever tudo isso? Veja bem, não estou falando que deveríamos nos livrar do ecossistema inteiro, mas estou querendo encorajar as pessoas para que não passem muito tempo tentando salvá-lo. Primeiro, é uma batalha perdida e, o mais importante, temos oportunidades maiores à frente.
Há vinte anos, vi a web e a ignorei. Disse que era uma imitação barata do serviço online Prodigy, mais lenta e sem um modelo de negócios. Em parte, não consegui entender o que vi. Mas, de forma geral, o que eu queria era que o Prodigy (meu cliente) tivesse sucesso, juntamente com um modelo de negócios que eu compreendia. Como resultado da minha arrogância, perdi a oportunidade de aproveitar um novo meio.
Tenho medo que nossas conexões culturais e corporativas aos livros como sistema de entrega possam nos cegar em relação às alternativas.
Não me sinto tão amargurado assim, já que estamos trocando nossos livros por algumas fabulosas alternativas que estão misturadas com coisas que são perda de tempo. Mas sim, depois de 500 anos, depois de participar da construção não de uma, mas de várias indústrias ao redor da criação, publicação, distribuição e armazenamento de livros, eu me sinto um pouco nostálgico.
Chamei este texto de “Um Fim” ao contrário de “O Fim”. Como sempre, vamos nos reinventar. Ainda precisamos de ideias e ideias precisam de recipientes. Desenvolvemos muitas formas para que estas ideias se espalhem e tenham impacto, e agora depende de nós descobrir como construir um ecossistema ao redor delas.
é um especialista em marketing e autor dos livros Quebre as regras e reinvente, Você é indispensável? e O melhor do mundo, entre outros.
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