segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Juergen Boos fala sobre a colaboração entre Brasil e Alemanha
 Em menos de dois meses, o Brasil vai assumir seu lugar como Convidado de Honra da Feira do Livro de Frankfurt com mais de 70 autores viajando para a Alemanha para participar do evento. Uma competição foi organizada no começo deste ano entre jovens designers para a criação um pôster como preparação para o evento. O vencedor mostra um cachorro de raça Teckel vestido com uma fantasia de Carnaval acima da frase “esperando pelo Brasil”. O segundo lugar mostrava uma foto do Pelé segurando um livro.
Além disso, vários editores e jornalistas alemães viajaram até Paraty este ano para participar da FLIP, festival literário mundialmente conhecido. Uma conferência para a imprensa com o Diretor da Feira de Frankfurt, Juergen Boos, no evento, ofereceu uma prévia do que poderíamos esperar em Frankfurt e revelou que todos já estão bem animados.

PublishNews Brazil: Ocorreram muitas mudanças administrativas este ano no Brasil, como isso afetou os preparativos?
Juergen Boos: Sim, durante este tempo de trabalho conjunto, tivemos três ministros da Cultura e dois presidentes da Fundação Biblioteca Nacional [a responsável pela participação do Brasil], então precisamos recomeçar algumas vezes com novas pessoas. Demorou quase dois anos para me aproximar de Galeno [Amorim, ex-presidente da FBN] e quando ficamos amigo, ele saiu. Agora com Renato Lessa [atual presidente da FBN], estamos construindo um novo relacionamento. Nos conhecemos em julho, em Frankfurt, mas foi uma excelente experiência. Fizemos uma conferência de imprensa onde repassamos os planos dos brasileiros para a Feira. Foi uma surpresa, porque é uma postura bastante intelectual, não um clichê, do tipo “Rio de Janeiro”, como se poderia esperar.
A arquitetura do estande foi muito bem pensada, é bastante especial – há muitas ideias que combinam a impressão tradicional com objetos digitais, etc. Possui muitas camadas, mas demora algum tempo para entender, você precisa de tempo para interagir com a proposta, e acho que é o mesmo com os brasileiros.
 PB: Alguma dificuldade na organização que tenha sido algo específico do Brasil?
JB: Não dá para comparar um país com o outro. Tive esta discussão com Peter [Weidhaas, ex-diretor da FBF]. Ele falou: “Vai ser difícil; os brasileiros fazem tudo no último minuto.” Mas não é a experiência que estamos tendo, o programa de tradução, por exemplo, começou no momento em que o país foi anunciado como Convidado de Honra. O Brasil tem sido um parceiro mais confiável do que muitos outros países.

PB: Você está trabalhando bem próximo à CBL, as editoras independentes também vão para Frankfurt ou só as que participam da Câmara?

JB: Sim, nós nos encontramos com alguns editores através do SNEL também e com editoras que não estão em nenhuma organização, além de autores que não pertencem a nenhum grupo oficial. Há algumas pessoas que vão participar de forma independente ou virão através de convites de seus editores alemães.
Há muitas pessoas que estão vindo pela primeira vez, então é importante nossa participação na Bienal do Rio, para conversar com editores que nunca foram antes, para contar o que devem esperar, como devem “lidar com Frankfurt”.

PB: Na conferência de imprensa em Paraty você mencionou que já conseguia sentir a presença brasileira no mercado editorial alemão, poderia explicar como isso está acontecendo?

JB: Primeiro, está o efeito das traduções e a presença do Brasil em outras feiras, como a de Bolonha. Haverá entre 200-250 títulos brasileiros disponíveis, e só estou falando entre os que sabemos que foram publicados na Alemanha, mas há outros. O plano é ter um efeito a longo prazo, e se isso não acontecer, então fracassamos no objetivo.

PB: E você consegue sentir o impacto da Alemanha no mercado editorial brasileiro? Também está envolvido na participação da Alemanha como Convidado de Honra no Rio?

JB: Sim, temos uma equipe de Frankfurt trabalhando nisso. Trabalhar a presença da literatura alemã no Brasil não é a mesma coisa. Não sei os números exatos, mas vejo um interesse pela cultura alemã aqui, há muitas comunidades de descendentes, as pessoas aprendem alemão, há cidades inteiras de origem alemã.

PB: As editoras brasileiras podem aprender muito das estrangeiras, mas em termos de vendas, talvez as livrarias estrangeiras possam aprender das brasileiras?

JB: É muito interessante. Um jornalista alemão que veio à Paraty me contou que tinha ficado muito impressionado com as livrarias no Brasil, elas organizam leituras, eventos musicais, etc. Acho que é um modelo para as livrarias europeias também, especialmente por estarem passando por uma situação complicada.

Mesmo Feltrinelli [a editora italiana] abriu uma nova rede de livrarias com restaurantes dentro das lojas. Bem, a Livraria Cultura em São Paulo faz isso há mais de 20 anos. Então, sim, é algo que podemos aprender do Brasil.

PB: No ano passado, Frankfurt anunciou planos para implementar uma conferência anual no Brasil chamada Contec. Como anda este plano?

JB: Teremos uma conferência pequena durante a Bienal, mas estamos planejando uma grande para o começo do ano que vem. Ainda não decidimos se será em São Paulo ou no Rio, porque precisamos de algum apoio, senão o financiamento será impossível.

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