terça-feira, 10 de setembro de 2013


Fruto dos mais de quarenta anos de cursos sobre O capital de Marx (livro I) lecionados pelo geógrafo marxista David Harvey em universidades ao redor do mundo, Para entender O capital é uma obra ao mesmo tempo sintética e densa, uma introdução para a compreensão de O capital, que chega em momento oportuno, de uma renovação do interesse pela análise das obras de Marx, em busca de um melhor entendimento das origens da falência econômica e dos nossos problemas atuais.
Apesar de os últimos trinta anos, mais particularmente desde a queda do muro de Berlim e do fim da Guerra Fria, não terem sido um período muito favorável ou fértil para a economia política marxiana, este livro ajuda a abrir a porta para que uma geração mais jovem, pouco familiarizada com esse pensamento, explore por sua própria conta o legado de Marx.
“O que vejo é que aqueles que hoje desejam ler Marx estão muito mais interessados em engajamentos práticos; isso não significa que tenham medo de abstrações, mas que consideram o academicismo tedioso e irrelevante. Há muitos estudantes e ativistas que desejam anseiam por uma forte base teórica para melhor apreender, de modo a situar e contextualizar seus próprios interesses e seu agir político”, diz Harvey na apresentação.

O economista Marcio Pochmann acerta ao comentar o livro no texto de orelha: “O trabalho disciplinado, incansável e pertinente do consagrado geógrafo David Harvey sobre o primeiro volume de O capital se torna, em sua leitura fácil e esclarecedora, um guia para entender e desenvolver a necessária contribuição da economia política de Karl Marx”. Para entender O capital é para Harvey realmente um “guia” (mais do que uma introdução ou interpretação), que tem a pretensão de orientar uma primeira exploração da economia política de Marx a todos que desejam trilhar esse caminho. O geógrafo britânico encoraja o encontro pessoal do leitor com o texto de Marx para que, da luta direta com ele, possa começar a formar uma compreensão própria do pensamento marxiano. Ele ainda defende que é preciso deixar de lado preconceitos e um mundo de conotações, favoráveis ou não, que acompanham termos como “marxismo” e “marxista”, pois só assim o leitor poderá captar o que Marx realmente tem a dizer.
Harvey também aconselha àqueles que tenham lido apenas excertos ou resumos d’O capital – não importa quão estrategicamente escolhidos – ou alguma exposição teórica das crenças políticas de Marx, a ler o livro como um texto integral. “Lendo O capital como um todo, é quase certo que você chegará a uma concepção bastante diferente do pensamento de Marx”, afirma.
O Livro I de O capital analisa o modo de produção capitalista do ponto de vista da produção, não do mercado nem do comércio global, mas exclusivamente da produção. Na época, Marx revelou uma grande compreensão daquilo que faz o capitalismo crescer do modo como cresce. “Para Marx, um conhecimento novo surge do ato de tomar blocos conceituais radicalmente diferentes, friccioná‑los uns contra os outros e fazer arder o fogo revolucionário. E é o que ele faz n’O capital: combina tradições intelectuais divergentes para criar uma estrutura completamente nova e revolucionária para o conhecimento”, conclui o professor.

Trecho do livro: “Durante os mais de trinta anos de contato que tive com esse texto, aconteceram muitas mudanças geográficas, históricas e sociais. Na verdade, uma das razões por que gosto de ensinar O capital todo ano é que sempre tenho de perguntar a mim mesmo como ele será lido, quais questões que antes passavam despercebidas chamarão minha atenção. Volto a Marx menos em busca de um guia do que de potenciais insights teóricos sobre mudanças geográficas, históricas e populacionais. É claro que, nesse processo, minha compreensão do texto mudou. Na medida em que o clima histórico e intelectual nos coloca diante de questões e perigos aparentemente sem precedentes, o modo como lemos O capital também tem de mudar e se adaptar”.

Sobre o autor : David Harvey é um dos marxistas mais influentes da atualidade, reconhecido internacionalmente por seu trabalho de vanguarda na análise geográfica das dinâmicas do capital. É professor de antropologia da pós-graduação da Universidade da Cidade de Nova York (The City University of New York – Cuny) na qual leciona desde 2001. Foi também professor de geografia nas universidades Johns Hopkins e Oxford. Sua obra foi apontada pelo Independent como uma das mais importantes de não-ficção publicadas desde a Segunda Guerra Mundial. Dele, a Boitempo publicou O enigma do capital (2011) e publicará, ainda este ano, Os limites do capital.

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