sábado, 6 de julho de 2013

Esse conto se passa no Missouri em 1927 e traz uma fuga de dois prisioneiros acorrentados: um negro e um irlandês. Sim, a referência a Atticus Man e ao Sargento Foley são claras aqui.

 É com esse anêmico conto que Azzarello preenche linguiça em Loveless.


Rios Profundos – Trovoada – Tempo Cumprido
Enfim, chegamos a última parte do especial. Como vimos, a história de Loveless termina no número 21, pois foi cancelada devido ao conhecido motivo de cancelamento de hqs: baixas vendas.
Por mais que a história seja bacana e resgate aquela ar western estadunidense, o povo de lá acabou não consumindo necessariamente a história de Azzarello e seu fim foi adiantado. Isso fica muito nítido no último arco “A Queda de Blackwater”: várias frentes de ação, personagens que estavam soltos voltando para fechar as ideias e uma correria no roteiro.

Entretanto, o contrato ia até o número 24. Então, para fechar o volume final, Azzarello escreveu mais 03 contos sem ligação direta com a história principal, mas fazendo referências bem legais aos conceitos propostos. Para ilustrar esses contos o já criticado Zezelj, com seus traços pesados. Vamos às histórias então.

Rios Profundos
“Entenda, a cabeça é a sua própria igreja particular… e você é o único paroquiano. É lá que cê gasta minutos que duram anos… fazendo sacrifícios e adorações idiotas que cê acredita que te farão feliz.”
Os dois se odeiam, mas precisam aprender a conviver juntos já que a polícia está em seu encalço. Adentrando a mata fechada decidem se esconder atrás de uma cachoeira; lá encontram uma caverna que lhes dará abrigo e proteção temporariamente.
Loveless capa vol1 topo-crop
A caverna é a mesma que foi utilizada por Ruth Cutter para enterrar o corpo de seu amado Wes Cutter. E o devido túmulo está lá, com a ossada de Cutter.
Seguros e salvos por um tempo, as discussões e diferenças vem à tona novamente e o foco agora é como soltar as correntes. Após algumas tentativas, a verdade fica clara ao se misturar com ódio: um deles tem que morrer e “ceder” o braço para a fuga do outro.
Só que diferente do que ocorre no final de Loveless quem se fode aqui é o irlandês, que tem o braço decepado.
Esses contos são curtos, sem começo-meio-fim, com um objetivo de fazer referências e mostrar algumas consequências da Guerra Civil no início do século XX. Por exemplo, nos diálogos entre os protagonistas, vemos que o negro fora preso por roubar uma galinha, já que sua família estava faminta. Várias décadas após a libertação dos escravos nos EUA, eles continuam enfrentando preconceitos e dificuldades (diga-se de passagem, até os dias de hoje).

Trovoada
“É importante. Você precisa ficar de cabeça baixa. Cê não vai chegar aonde quer enquanto não fizer isso”.
Vindos da Grande Depressão de 1929 e indo além da puxada de Loveless, Azzarello escreveu um conto bem bacana que carrega em sua linha central os bandidos mais famosos dessa época noir:Bonnie e Clyde.
O casal, no auge de uma fuga, invade uma fazenda para se esconder da polícia e conhece um pouco mais a história do dono: aos 15 anos, o homem atuava como jóquei, cavalgando pelos EUA, como uma trovada. E seu melhor amigo foi um aprendiz, chamado Jasper.
Vamos recordar: Jasper é o menino que Wes tenta usar como bode expiatório para as mortes; após tomar o pé na bunda de Blackwater, o menino seguiu seus instintos e foi cavalgar. Fugindo de um mundo podre, Jasper mantém-se firme a sua crença destacada acima.
loveless-2-artigo O velho segue sua história que termina com um final trágico: num dia de corrida chuvosa, seguindo os conselhos do amigo, ele consegue uma vitória brilhante, mas ao preço de ver Jasper estatelado no chão. Uma vitória, uma morte. E ele ficou para trás junto ao amigo, abandonou as corridas e tomou um novo rumo na vida.
A triste história é ilustrada de maneira fantástica por Patrícia Mulvihill. Suas cores dão todo o ar dos quadros. Com certeza, entre os três, este arco é o melhor devido às referências, as cores, à história em si, à sua profundidade, à sua tristeza e ao abraço fraterno de Bonnie.

Tempo Cumprido
“- Bom, nós todos morremos.
- Não. Ocês morrem. Eu não. Se ele tive um plano diferente e num gosta do meu… vai tê qui me enterrá vivo!”.

Chicago, 1902. Se você estivesse preso por mais de 30 anos, injustamente e, finalmente fosse solto, o que faria?
Essa é a premissa do contos final de Loveless. Aqui, a única referência é o nome e a nacionalidade do ex-presidiário: Foley, o irlandês. E como uma pessoa privada de necessidades que somente a liberdade alimenta, seus primeiros passos vão em direção a saciá-las, isto é, beber e trepar.
O conto é bem curto, com um personagem introspectivo, o que deixa a história bem superficial. Não permite muitas associações com a narrativa principal. Sabemos apenas que é um cara cruel, que compra uma arma para realizar sua vingança pelos tempos na prisão e que ele é um ex-soldado da União que participou da Guerra Civil.
Para apontar mais alguma citação, temos a blasfêmia contra as odes divinas, que nos remete ao bom sarcasmo de Wes Cutter!

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