sexta-feira, 27 de maio de 2016

Desde que foi lançado, há cerca de um mês, O Diário de uma camareira, de Octave Mirbeau, tem suas vendas se elevando, tendo já esgotado a primeira impressão. Este romance foi descoberto pela imprensa e rendeu a matéria de página inteira na Folha de São Paulo

O Diário de Uma Camareira' é adaptação do livro famoso de Octave Mirabeau
 
O Diário de Uma Camareira com Léa Seydoux, a nova musa francesa, e Vincent Lindon, o ator mau encarado, competindo pelo Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim tem de tudo para ser um bom filme - é preciso, a escolha da luz nas cenas é excelente, mostra uma perfeição exigente típica francesa, os atores são ótimos, não se trata de um remake de Renoir e Buñuel, mas falta alguma coisa, aquela coisa capaz de tornar um filme bom melhor que os outros.
Um filme bom, bem trabalhado até mesmo burilado, bem filmado, mas mesmo assim um tanto desdenhado pela crítica que lhe negou aplausos. Não era certamente o melhor dia para o cineasta Benoit Jacquod, pois seus atores não puderem comparecer na coletiva com a crítica.
Talvez o charme um tanto frio de Lea Seydoux pudesse amenizar o clima. Sem ela, as perguntas foram se transformando numa interpretação sóciopolítica do livro inspirador do filme, de Octave Mirbeau, publicado em 1900, e da prestação trabalhista da profissão feminina de camareira, há mais de cem anos, com reflexos na vida sexual das mulheres francesas, pioneiras na libertação sexual, e em termos de conquistas sociais.
A primeira pergunta, inevitável - não foi intimidador, para Jacquot, adaptar o livro filmado por dois grandes como Renoir e Buñuel? "Conhecia os filmes de ambos, mas nunca havia lido o livro de (Octave) Mirabeau. Embora Jeanne Moreau esteja extraordinária como Celéstine, não creio que seja um grande Buñuel, pelo menos tão grande como Bela da Tarde. O mesmo se pode dizer da versão de Renoir, que dirigiu o filme no final de seu exílio em Hollywood, durante a (2.ª) guerra. Mesmo não sendo um grande Renoir, o filme é muito interessante porque foi feito numa fase de transição, antes do seu retorno à França, revelando uma espécie de apreensão pelo país que ele temia reencontrar. Ao ler, finalmente, o livro, percebi que nenhuma das adaptações dava conta da complexidade política e social do texto. Mais que isso. Joseph, o dublê de chauffeur e criado de Vincent (Lindon) tem um discurso xenófobo e antissemita que tem tudo a ver com a época, o pré-guerra, mas que se encontra hoje na ordem do dia com essa ascensão das forças de direita na França, e na Europa, de maneira geral."
O filme divide-se claramente em duas partes - a primeira é centrada na atividade de Celéstine como camareira e a segunda na sua relação com Joseph, que revela o desejo da criada de romper com o estigma de classe e ascender socialmente. "Essa divisão foi intencional, do ponto de vista dramático, mas, embora esteja no roteiro, não tem contrapartida da mise-en-scène. Um colega seu falou que a câmera se move mais na primeira parte, mas não é verdade. O que ocorre é que o espectador termina, por assim dizer, por se acostumar com o movimento e não o nota mais. Mas o movimento da câmera, do ator é importante para mim porque me ajuda a expressar o ponto de vista de Celéstine da burguesia e também de Joseph." O repórter destaca um movimento, em particular - a câmera sai de dentro da casa e acompanha Celéstine que segue uma direção no jardim e Joseph prossegue em outra. Como Jacquot consegue isso? "O movimento do filme é muito elaborado e consciente. Tenho travelling, câmera no tripé e na mão, combino as duas com a lente zoom e o movimento dos atores. Às vezes, vira um tour de force para fazer, mas eu gosto."

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