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O leitor vai matar saudade. Philip Marlowe, um dos maiores detetives da história da literatura policial, está de volta. E, melhor ainda, do mesmo jeito que deixou as páginas do romance Playback, publicado em 1958, o sétimo e o último que o escritor americano Raymond Chandler escreveu com o mesmo personagem. Ressuscitado em A loura de olhos negros, lançamento da editora Rocco, ele continua um sentimental e um solitário, espécie de “cavaleiro andante” moderno, a bordo de um velho Chrysler que cruza as ruas de Los Angeles, cidade infestada de chantagistas, mexicanos brutais, policiais corruptos, políticos escroques, magnatas da imprensa, traficantes, toxicômanos, ninfomaníacas, gigolôs, aspirantes a estrelas e astros de Hollywood. O irlandês John Banville, sempre presente nas listas dos candidatos ao Prêmio Nobel, foi o escolhido pelos herdeiros de Raymond Chandler para escrever a nova aventura do detetive particular que sempre cobra 25 dólares por dia, mais despesas. Na verdade, quem assina o livro é Benjamin Black, pseudônimo do qual Banville se utiliza nos romances policiais protagonizados pelo patologista Garret Quirke – dois deles, O pecado de Christine e O Cisne de Prata, já lançados no Brasil pela Rocco.
Quando tem início a ação de A loura de olhos negros (título que o próprio Chandler mantinha em seus arquivos para futuras obras), encontramos Philip Marlowe vivendo uma situação velha conhecida, entediado, à espera de um cliente: “Era uma dessas terças-feiras de verão, quando você se pergunta se a Terra parou de girar. O telefone em minha escrivaninha tinha o ar de algo que sabe que está sendo observado. Carros passavam a conta-gotas na rua abaixo da janela poeirenta do meu escritório, e alguns dos bons cidadãos de nossa bela cidade caminhavam vagarosamente ao longo da calçada, os homens de chapéus, em sua grande maioria, indo a lugar nenhum.”
Eis que o detetive avista uma mulher, de longas pernas, usando um pequeno chapéu e um casaco elegante, que olha à esquerda e à direita antes de atravessar a rua, muito compenetrada. Marlowe imagina que ela deve ter sido “uma menina muito boazinha quando era pequena” e, neste momento, sabemos que a mulher irá bater na porta do escritório e as engrenagens do mistério vão começar a rodar. Clare Cavendish, rica herdeira de uma fábrica de perfumes, contrata o detetive para encontrar o antigo amante, um boa-vida chamado Nico Peterson, que sumiu de circulação aparentemente sem deixar rastro.
John Banville/Benjamin Black consegue uma façanha: recuperar não apenas o charme do estilo de Chandler – cujo detetive é mais rápido com as palavras do que com o gatilho do revólver – como também o clima opressivo de Bay City (nome pelo qual a cidade de Santa Monica é retratada nos livros) no fim dos anos 1950. Recriação de alto nível, A loura de olhos negros devolve ao leitor um Philip Marlowe ainda mais complexo e misterioso que o original, um homem ferido de amor, mas inflexível em sua busca da verdade e da justiça.
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