Giselle, a espiã nua que abalou Paris
A espiã nua que abalou Paris, inventada em 1948 pelo jornalista David Nasser, ele mesmo uma espécie de estrela da revista O Cruzeiro, a maior do país na época. Os livros se tornaram verdadeiros best-sellers. Como Nasser matou a sedutora espiã no final da saga, Lou Carrigan (pseudônimo do espanhol Antonio Vera Ramirez) fez nascer sua “filha” Brigitte Montfort (ao lado, no traço de José Luiz Benício da Fonseca, que assinava só Benício), na mesma linha, misturando violência e sexo. As aventuras de Brigitte fizeram sucesso pela Editora Monterrey, que nos anos 1960 e 1970 dominou o mercado brasileiro de livros populares em formato de bolso.
Tudo pela libertação da França
Durante a Segunda Guerra Mundial, após a ocupação nazista na França, é organizada a Resistência Francesa. Paulo Zingg, um dos guerrilheiros, convoca sua namorada para ajudar o movimento, mas não empunhando armas, e sim oferecendo seu corpo para o inimigo, e assim, obter informações preciosas para os maquis. E assim, a jovem fez esse alto sacrifício e se entregou a oficiais da Gestapo e do exército alemão. Por sinal, praticamente todos o oficiais nazistas eram tarados ou tinham alguma perversão sexual Até Himmler e Goering deram às caras nas histórias de Giselle. Como toda boa história de espionagem, havia lances de suspense e traição, e por várias vezes Giselle escapou de ser descoberta e fuzilada por intervenção de algum alemão encantado pelos dotes da espiã francesa. E claro, um bom punhado de sacanagem.
De fato, houve inúmeros casos verdadeiros de mulheres francesas que se seviciaram com o odioso inimigo para ajudar a libertação da França. Algumas foram, injustamente, acusadas de se aliarem ao inimigo e sofreram a injusta execração pública. E as aventuras de Giselle seriam supostamente verdadeiras, e baseadas em um diário que a espiã teria escrito. Uma idéia bem romântica, e que vende bastante.
Um diário fajuto
Em fins dos anos 40, o jornal carioca Diário da Noite estava indo pras cucuias, com as vendas baixas. Como parte dos Diários Associados, o jornal recebeu um reforço oriundo da redação da revista O Cruzeiro: a dupla David Nasser e Jean Manzon. O primeiro se tornara jornalista quase que por acaso, pois pegara o bloco de anotações de um jornalista que cobria uma confusão e que acabou no hospital, levando esse bloco para a redação do jornal, onde lhe propuseram fazer a matéria no lugar do repórter. Já Jean Manzon era fotógrafo francês que acabou caindo na graças de Chateaubriand. A dupla ficou famosa após fotografar e relatar, de dentro de um avião em vôo rasante, o encontro com uma tribo selvagem na floresta amazônica.
David Nasser começou a escrever as histórias de Giselle para o Diário da Noite em 1948, e a série caiu no gosto popular, fazendo as vendas do jornal decolar. Na época, a história era apresentada como oriunda do diário de Giselle, que teria sido escrito enquanto presa em Lys, e cujo conteúdo chegara nas mãos do jornalista pelo colega de profissão italiano Carlo Tancini. O próprio Diário da Noite intitulava o folhetim de “documentário”. Mas era tudo fruto da imaginação fértil de Nasser , e os detalhes do cenário francês e as fotos de dançarinas eram fornecidas pelo fotógrafo Manzon, para enriquecer a narrativa e dar mais credibilidade à “versão oficial”. Aliás, os detratores de Nasser afirmam que a maioria das reportagens da dupla também era obra de ficção. Mas não vem ao caso.
Apesar da tiragem do jornal ir de vento em popa, Chatô não era exatamente bom em lembrar de pagar seus melhores funcionários. E como Nasser ainda não vira a cor do dinheiro por seu trabalho escrevendo as aventuras de Giselle, ele resolve obter a grana de uma forma original: acabando com a série. Ao deixar a espiã gostosa diante do pelotão em um dos capítulos da saga, ele chega ao seu patrão e comunica que na próxima edição, Giselle morreria fuzilada e a série acabaria. O homem se desesperou e pagou os atrasados, mas com a condição de que Giselle seria salva e a série continuaria, e que Nasser desse um jeito de livrar a gostosa do fuzilamento, nem que o próprio chefe da Gestapo aparecesse e a liberasse. A série durou 59 episódios, onde a coitada da Giselle deve ter dado pra um terço do efetivo alemão na França…
A Filha da Espiã
Após o final da série no Diário da Noite, as histórias de Giselle foram republicadas em livro pela primeira vez em 1952. Anos depois, a editora Monterrey adquire os direitos da personagem e relança a série em 1964. Essa editora foi fundada no Brasil por dois espanhóis em 1956, com o intuito de reproduzir um fenômeno editorial de seu país aqui no Brasil, os livros de bolso com temática faroeste e policial. Inicialmente eles publicaram as histórias escritas por um espanhol chamado José J.Mallorqui, que na verdade tinha um escritório que produzia as histórias, as quais eram escritas por escritores anônimos. Em 1963 o jornalista brasileiro José Alberto Gueiros entrou na sociedade da editora no lugar de um dos sócios, e uma de suas primeiras ideias foi comprar os direitos de publicação da série Giselle, e a partir do texto original de David Nasser deu uma “revisada” para eliminar algumas incongruências e erros de continuidade. Ao lançar o título em 4 volumes, o sócio espanhol viu uma verdadeira mina de ouro, ou nas palavras dele, “essa puta é uma vaca leiteira, está dando muito leite, não podemos parar”. Daí que Gueiros mudou o texto no último capítulo para poder introduzir a filha de Giselle, a Brigitte. E a editora encomendou a série de aventuras a um outro escritório espanhol, o de Antonio Vera Ramirez. Provavelmente muitos escritores anônimos deram vida as aventuras de Brigitte sob o nome de Lou Carrigan. E o destaque eram as capas desenhadas pelo mestre brazuca das pin-ups, José Luiz Benicio da Fonseca, o Benício, que se tornaria famoso ao desenhar cartazes para filmes nacionais.
A Monterrey se firmaria como editora dos famosos bolsilivros, produzidos às centenas de milhares e devorados por muitos. Era a verão tupiniquim dos livros pulp. E Giselle foi uma campeã de vendas, também em forma de livro. Tanto que depois sairia uma nova série que derivada da série Giselle (o que poderíamos hoje chamar de spin-off). A filha de Giselle, Brigitte, acabaria puxando a mãe e se torna espiã a serviço da CIA nas páginas da série ZZ7 – As Aventuras de Brigitte Montford. Como as aventuras da mãe, a espiã sofisticada Brigitte oferecia histórias bem picantes. Só que a carreira da espiã a serviço do mundo livre foi mais extensa que a da mãe, já que foram publicados aproximadamente 1500 volumes de suas aventuras, que atravessaram os ano 60, 70, 80 e parte dos 90. Muito senhor respeitável de hoje deve ter oferecido muito sacrifício no templo de Onã ao ler as aventura de Giselle e de Brigitte…
Se aqui fosse um país sério, as aventuras da colega mais sensual de DeGaulle já teriam sido relançadas em edição de luxo comentada, viraria minissérie da Globo ou filme, como já aconteceu com os folhetins de Suzana Flag, pseudônimo de Nelson Rodrigues, e com outro folhetim da época, Presença de Anita. Infelizmente a editora Monterrey parece ter saído de vez do mercado editorial, pois seu site está indisponível. Mas se quiser ler a aventuras de Giselle, pode tentar encontrar seus livros nos sebos.
A espiã nua que abalou Paris, inventada em 1948 pelo jornalista David Nasser, ele mesmo uma espécie de estrela da revista O Cruzeiro, a maior do país na época. Os livros se tornaram verdadeiros best-sellers. Como Nasser matou a sedutora espiã no final da saga, Lou Carrigan (pseudônimo do espanhol Antonio Vera Ramirez) fez nascer sua “filha” Brigitte Montfort (ao lado, no traço de José Luiz Benício da Fonseca, que assinava só Benício), na mesma linha, misturando violência e sexo. As aventuras de Brigitte fizeram sucesso pela Editora Monterrey, que nos anos 1960 e 1970 dominou o mercado brasileiro de livros populares em formato de bolso.
Tudo pela libertação da França
Durante a Segunda Guerra Mundial, após a ocupação nazista na França, é organizada a Resistência Francesa. Paulo Zingg, um dos guerrilheiros, convoca sua namorada para ajudar o movimento, mas não empunhando armas, e sim oferecendo seu corpo para o inimigo, e assim, obter informações preciosas para os maquis. E assim, a jovem fez esse alto sacrifício e se entregou a oficiais da Gestapo e do exército alemão. Por sinal, praticamente todos o oficiais nazistas eram tarados ou tinham alguma perversão sexual Até Himmler e Goering deram às caras nas histórias de Giselle. Como toda boa história de espionagem, havia lances de suspense e traição, e por várias vezes Giselle escapou de ser descoberta e fuzilada por intervenção de algum alemão encantado pelos dotes da espiã francesa. E claro, um bom punhado de sacanagem.
De fato, houve inúmeros casos verdadeiros de mulheres francesas que se seviciaram com o odioso inimigo para ajudar a libertação da França. Algumas foram, injustamente, acusadas de se aliarem ao inimigo e sofreram a injusta execração pública. E as aventuras de Giselle seriam supostamente verdadeiras, e baseadas em um diário que a espiã teria escrito. Uma idéia bem romântica, e que vende bastante.
Um diário fajuto
Em fins dos anos 40, o jornal carioca Diário da Noite estava indo pras cucuias, com as vendas baixas. Como parte dos Diários Associados, o jornal recebeu um reforço oriundo da redação da revista O Cruzeiro: a dupla David Nasser e Jean Manzon. O primeiro se tornara jornalista quase que por acaso, pois pegara o bloco de anotações de um jornalista que cobria uma confusão e que acabou no hospital, levando esse bloco para a redação do jornal, onde lhe propuseram fazer a matéria no lugar do repórter. Já Jean Manzon era fotógrafo francês que acabou caindo na graças de Chateaubriand. A dupla ficou famosa após fotografar e relatar, de dentro de um avião em vôo rasante, o encontro com uma tribo selvagem na floresta amazônica.
David Nasser começou a escrever as histórias de Giselle para o Diário da Noite em 1948, e a série caiu no gosto popular, fazendo as vendas do jornal decolar. Na época, a história era apresentada como oriunda do diário de Giselle, que teria sido escrito enquanto presa em Lys, e cujo conteúdo chegara nas mãos do jornalista pelo colega de profissão italiano Carlo Tancini. O próprio Diário da Noite intitulava o folhetim de “documentário”. Mas era tudo fruto da imaginação fértil de Nasser , e os detalhes do cenário francês e as fotos de dançarinas eram fornecidas pelo fotógrafo Manzon, para enriquecer a narrativa e dar mais credibilidade à “versão oficial”. Aliás, os detratores de Nasser afirmam que a maioria das reportagens da dupla também era obra de ficção. Mas não vem ao caso.
Apesar da tiragem do jornal ir de vento em popa, Chatô não era exatamente bom em lembrar de pagar seus melhores funcionários. E como Nasser ainda não vira a cor do dinheiro por seu trabalho escrevendo as aventuras de Giselle, ele resolve obter a grana de uma forma original: acabando com a série. Ao deixar a espiã gostosa diante do pelotão em um dos capítulos da saga, ele chega ao seu patrão e comunica que na próxima edição, Giselle morreria fuzilada e a série acabaria. O homem se desesperou e pagou os atrasados, mas com a condição de que Giselle seria salva e a série continuaria, e que Nasser desse um jeito de livrar a gostosa do fuzilamento, nem que o próprio chefe da Gestapo aparecesse e a liberasse. A série durou 59 episódios, onde a coitada da Giselle deve ter dado pra um terço do efetivo alemão na França…
A Filha da Espiã
Após o final da série no Diário da Noite, as histórias de Giselle foram republicadas em livro pela primeira vez em 1952. Anos depois, a editora Monterrey adquire os direitos da personagem e relança a série em 1964. Essa editora foi fundada no Brasil por dois espanhóis em 1956, com o intuito de reproduzir um fenômeno editorial de seu país aqui no Brasil, os livros de bolso com temática faroeste e policial. Inicialmente eles publicaram as histórias escritas por um espanhol chamado José J.Mallorqui, que na verdade tinha um escritório que produzia as histórias, as quais eram escritas por escritores anônimos. Em 1963 o jornalista brasileiro José Alberto Gueiros entrou na sociedade da editora no lugar de um dos sócios, e uma de suas primeiras ideias foi comprar os direitos de publicação da série Giselle, e a partir do texto original de David Nasser deu uma “revisada” para eliminar algumas incongruências e erros de continuidade. Ao lançar o título em 4 volumes, o sócio espanhol viu uma verdadeira mina de ouro, ou nas palavras dele, “essa puta é uma vaca leiteira, está dando muito leite, não podemos parar”. Daí que Gueiros mudou o texto no último capítulo para poder introduzir a filha de Giselle, a Brigitte. E a editora encomendou a série de aventuras a um outro escritório espanhol, o de Antonio Vera Ramirez. Provavelmente muitos escritores anônimos deram vida as aventuras de Brigitte sob o nome de Lou Carrigan. E o destaque eram as capas desenhadas pelo mestre brazuca das pin-ups, José Luiz Benicio da Fonseca, o Benício, que se tornaria famoso ao desenhar cartazes para filmes nacionais.
A Monterrey se firmaria como editora dos famosos bolsilivros, produzidos às centenas de milhares e devorados por muitos. Era a verão tupiniquim dos livros pulp. E Giselle foi uma campeã de vendas, também em forma de livro. Tanto que depois sairia uma nova série que derivada da série Giselle (o que poderíamos hoje chamar de spin-off). A filha de Giselle, Brigitte, acabaria puxando a mãe e se torna espiã a serviço da CIA nas páginas da série ZZ7 – As Aventuras de Brigitte Montford. Como as aventuras da mãe, a espiã sofisticada Brigitte oferecia histórias bem picantes. Só que a carreira da espiã a serviço do mundo livre foi mais extensa que a da mãe, já que foram publicados aproximadamente 1500 volumes de suas aventuras, que atravessaram os ano 60, 70, 80 e parte dos 90. Muito senhor respeitável de hoje deve ter oferecido muito sacrifício no templo de Onã ao ler as aventura de Giselle e de Brigitte…
Se aqui fosse um país sério, as aventuras da colega mais sensual de DeGaulle já teriam sido relançadas em edição de luxo comentada, viraria minissérie da Globo ou filme, como já aconteceu com os folhetins de Suzana Flag, pseudônimo de Nelson Rodrigues, e com outro folhetim da época, Presença de Anita. Infelizmente a editora Monterrey parece ter saído de vez do mercado editorial, pois seu site está indisponível. Mas se quiser ler a aventuras de Giselle, pode tentar encontrar seus livros nos sebos.
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