quinta-feira, 26 de junho de 2014

A HQ ganhou o prêmio de melhor Graphic Novel no HQ Mix de 1999.
Os desenhos da revista foram feitos por Alexandre Araújo. O quadrinho de Zé do Caixão do qual vou falar vai ser A ESTRANHA TURMA DE ZÉ DO CAIXÃO, o gibi infantil. Foi esse gibi que acabei encontrando, por acaso, na minha última viagem a Porto Alegre, junto com vários outros gibis.
A ESTRANHA TURMA DE ZÉ DO CAIXÃO foi uma tentativa de se fazer um Zé do Caixão voltado ao público infantil, no melhor estilo terrir (terror-comédia leve). Este gibi foi uma das primeiras publicações da hoje extinta editora Brainstore, capitaneada por Eloyr Pacheco, que havia começado sua linha de HQs publicando a revista do personagem Senninha, a partir do número 98 (o personagem, baseado no saudoso piloto Ayrton Senna, era publicado até 1998 pela editora Abril).
A ESTRANHA TURMA DE ZÉ DO CAIXÃO foi publicada em outubro de 1999, e no mesmo ano faturou o prêmio HQ MIX de melhor graphic novel. A iniciativa, infelizmente, só ficou neste número único, mas tinha tudo para agradar.
A história desta HQ, A Maldição de Jack, tem roteiro de Kaled, desenhos de Alê Araújo, arte final de Cleber Salles e cores de Anderson Almeida, a partir da concepção gráfica de Alexandre Montandon (criador também do mascote da editora Brainstore, o vaga-lume Lumi) e Alexandre Dias. Só o destino de um dos artistas eu consegui encontrar: o de Anderson Almeida, que, com o roteirista Nathan Cornes, produziu a série Zeladores, que ganhou álbum pela editora Devir.
O mais surpreendente do gibi é tanto o roteiro, bem-construído, bem conduzido e cheio de ironia e surpresas, quanto a arte, dinâmica, cheia de ação e movimento, como se tivesse sido feita para um desenho animado. Nem parece feito para crianças.
Bom. Em A ESTRANHA TURMA..., Zé do Caixão foi metamorfoseado em um menino. Com o visual característico – roupa preta, cartola, medalha no pescoço, mas sem a barba nem as unhas compridas – o Zé do Caixão deste gibi é muito mais o cineasta que o agente funerário. Um garoto excêntrico, com gosto pelas mídias de terror, e um diretor irascível. É o Zé do Caixão retratado em sua forma mais humana. Neste gibi, ele vive uma aventura especial celebrando o Halloween (por isso eu disse que o momento era apropriado para falar deste gibi), ao lado dos amigos, o medroso Vanelsinho e a excêntrica Fran, seus parceiros de teatro, e da mascote, a tarântula Tarantela.
A história começa quando Zé do Caixão, na escola onde estuda, está tentando orientar uma atriz mirim relutante em uma montagem mórbida de Chapeuzinho Vermelho. Aqui, vemos Zé do Caixão, mesmo criança, usando seus exóticos métodos de formar atores, através da exposição dos mesmos a insetos para arrancar gritos de pavor.
Entretanto, seus métodos desagradam a diretoria da escola, e Zé é suspenso do grupo de teatro. Vanelsinho e Fran também se demitem, e a menina convida os amigos para jantar na casa da avó dela, uma senhora excêntrica e muito simpática, que Vanelsinho acredita ser uma bruxa. Através de uma amiga do colégio, Natasha (que não tem papel ativo dentro da história), os amigos acabam sabendo que se aproximava o Halloween.
Depois de um jantar atrapalhado, a avó de Fran começa a contar a Zé e seus amigos a mais tradicional história do Halloween, a data onde, segundo ela, o mundo dos espíritos fica mais próximo ao dos homens: a história de Jack, um homem irlandês que não foi aceito no céu por causa de seus pecados, nem no inferno, porque costumava pregar peças no diabo, porque este queria desde já levá-lo para o inferno. Como castigo, Jack foi condenado a vagar pela terra por toda a eternidade, levando uma vela acesa dentro de uma abóbora (daí a tradição de se esculpir rostos assustadores em abóboras nessa data).
Impressionados com essa história, Zé e Vanelsinho decidem adaptar a história de Jack para um filme. Por isso, eles ganham da avó de Fran uma velha câmera. E, ao pedir emprestado a Fran dinheiro para o ônibus na hora de ir embora, Zé recebe, por engano, uma moeda que será importante para a trama. Uma moeda que será a salvação para os perigos que Zé e Vanelsinho vão se meter mais adiante...
Passando por um cemitério, naquela hora da noite, Zé decide ensaiar o seu filme, e acaba, sem querer, evocando Jack, que está longe de ser o peregrino simpático que ele conheceu pela história. Por causa disso, Zé e Vanelsinho correm o risco de serem jogados diretamente no inferno... e somente o engano de Fran pode salvá-los.
Certamente, uma obra que tinha tudo para agradar. Pena que não teve continuidade. O clima mórbido se adapta bem aos leitores jovens, e há momentos de pura ação, gritos e desenhos assustadores de tão dinâmicos. Mas o roteiro foi feito mais para rir que para assustar, afinal é para crianças. O maior defeito desta HQ foi o não-aproveitamento satisfatório dos personagens Natasha e Tarantela, que ficaram em segundíssimo plano na trama.
Hoje, este gibi é quase uma raridade. Só em sebos ele pode ser encontrado. É o resgate da História das HQ brasileiras. 

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