A narrativa do livro "O beijo da mulher aranha" de Manuel Puig, através de uma adaptação cinematográfica?
Em uma prisão na América do Sul, dois prisioneiros dividem a mesma cela. Um é homossexual e está preso por comportamento imoral e o outro é um prisioneiro político. O primeiro, para fugir da triste realidade que o cerca, inventa filmes cheios de mistério e romance, mas o outro tenta se manter o mais politizado possível em relação ao momento que vive. Mas esta convivência faz com que os dois homens se compreendam e se respeitem.
É baseado no romance El beso de la mujer araña, escrito pelo argentino Manuel Puig em 1976, dirigida por um argentino, mas naturalizado brasileiro, com um porto-riquenho, brasileiros e um americano no elenco. Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Direção (Hector Babenco), Melhor Roteiro Adaptado e venceu o de Melhor Ator (William Hurt); rendeu também as indicações ao Bafta e ao Globo de Ouro para Sonia Braga.
Na trama, época de ditadura e repressão, o prisioneiro político, Valentin (Raul Julia) divide uma cela com o homossexual Molina (William Hurt), acusado de corrupção de menores. Os militares do regime ditatorial querem nomes e a confissão de Valentin enquanto se usam de tortura para isso, na tentativa de desarmar o grupo do revolucionário. Paralelamente, Molina imagina um filme, com uma personagem, Leni (Sonia Braga), uma francesa envolvida numa trama de espionagem envolvendo nazistas. A fantasia serve tanto para amenizar a dor de Valentin por estar preso e longe da mulher que ama quanto fazer com que os dois se aproximem. Dessa proximidade, aliás, nasce a paixão de Molina pelo companheiro de cela.
O que Valentin não sabe nem imagina é que Molina está contribuindo com os militares para conseguir arrancar dele aquilo que os repressores políticos querem. Para isso, Molina se usa de todos os truques possíveis, criando uma rede de sedução e de cuidados ao passo que reproduz toda a sua dor e melancolia na fantasia romântica do filme que imagina (o roteiro traz um filme dentro de outro filme). Quando Valentin precisa de ajuda ao sofrer intoxicação alimentar proposital pelos policiais, Molina vê a chance de ter aquilo que quer – o companheiro em sua cama – o que mexe não só com seus próprios sentimentos mas também com os do parceiro. Com a ajuda do diretor do presídio (José Lewgoy) e a pressão de um policial (Milton Gonçalves), o homossexual tenta jogar dos dois lados, exigindo favores da polícia e protegendo ao mesmo tempo sua paixão até conseguir sua liberdade condicional. Ao consegui-la, Valentin, por inocência ou não, o instrui para uma missão: a dúvida passa a ser se Molina terá coragem de executar ou não, já que o destino que se anuncia é trágico como nos filmes românticos que ele imaginava.
William Hurt, embora às vezes pareça caricato, defende muito bem seu personagem, transitando entre o sensível e apaixonado, como alguém que quer defender o seu parceiro, mas também o sofrido, ressentido e magoado. É uma pessoa infeliz por, nas palavras dele, nunca ter encontrado o homem de seus sonhos e ter se apaixonado pelas pessoas erradas – e vê em Valentin o homem que ele sempre desejou, mas nunca teve. Molina é um presente para qualquer ator e um personagem complexo. Demonstra clareza suficiente sobre sua condição de prisioneiro que envergonhou sua própria mãe, tristeza por não se aceitar como homem e sonhar em ser uma mulher (“se eu pudesse eu o cortaria fora”, diz, sobre seus genitais), medo de não conseguir sair dali, medo de abandonar Valentin, mas inteligência para atrai-lo à sua teia e conseguir o que quer tanto dele quanto dos policiais. Igualmente, se mostra ingênuo ao final do filme.
O saudoso Raul Julia, esquecido pelas premiações da época, tem aqui um desempenho excelente, transitando entre o amor e o ódio pelo homossexual enquanto não esquece sua companheira perseguida pela polícia. Sonia Braga incorpora com perfeição os trejeitos de uma mulher sedutora e apaixonada por um homem errado na fantasia, assim como dá vida a Mulher Aranha do título, criada por Molina e a Marta, o amor de Valentin. O filme ainda tem no elenco Milton Gonçalves, Nuno Leal Maia, Herson Capri (como Werner, a paixão de Leni) e outros brasileiros, falando inglês com sotaque carregado.
O filme pode parecer mais longo do que realmente é (todo o filme se passa praticamente dentro da cela com os dois presos) e o final pode não agradar muito para alguém que acabou se envolvendo com os personagens e, de certa forma, torcendo por eles.
Preste atenção: a personagem Lídia. Ela é Ana Braga, irmã de Sonia e mãe da atriz Alice Braga.
PRÊMIOS
OSCAR
Ganhou: Melhor Ator – William Hurt
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor – Hector Babenco e Melhor Roteiro Adaptado
GLOBO DE OURO
Indicações: Melhor Filme – Drama, Melhor Ator – Drama – Raul Julia e William Hurt e Melhor Atriz Coadjuvante – Sônia Braga
INDEPENDENT SPIRIT AWARDS
Ganhou: Prêmio especial
FESTIVAL DE CANNES
Ganhou: Melhor Ator – William Hurt
Manuel Puig foi quem primeiro adaptou sua própria obra, no formato de uma peça de teatro. A adaptação, entretanto, só veio após o lançamento do filme.
Em uma prisão na América do Sul, dois prisioneiros dividem a mesma cela. Um é homossexual e está preso por comportamento imoral e o outro é um prisioneiro político. O primeiro, para fugir da triste realidade que o cerca, inventa filmes cheios de mistério e romance, mas o outro tenta se manter o mais politizado possível em relação ao momento que vive. Mas esta convivência faz com que os dois homens se compreendam e se respeitem.
É baseado no romance El beso de la mujer araña, escrito pelo argentino Manuel Puig em 1976, dirigida por um argentino, mas naturalizado brasileiro, com um porto-riquenho, brasileiros e um americano no elenco. Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Direção (Hector Babenco), Melhor Roteiro Adaptado e venceu o de Melhor Ator (William Hurt); rendeu também as indicações ao Bafta e ao Globo de Ouro para Sonia Braga.
Na trama, época de ditadura e repressão, o prisioneiro político, Valentin (Raul Julia) divide uma cela com o homossexual Molina (William Hurt), acusado de corrupção de menores. Os militares do regime ditatorial querem nomes e a confissão de Valentin enquanto se usam de tortura para isso, na tentativa de desarmar o grupo do revolucionário. Paralelamente, Molina imagina um filme, com uma personagem, Leni (Sonia Braga), uma francesa envolvida numa trama de espionagem envolvendo nazistas. A fantasia serve tanto para amenizar a dor de Valentin por estar preso e longe da mulher que ama quanto fazer com que os dois se aproximem. Dessa proximidade, aliás, nasce a paixão de Molina pelo companheiro de cela.
O que Valentin não sabe nem imagina é que Molina está contribuindo com os militares para conseguir arrancar dele aquilo que os repressores políticos querem. Para isso, Molina se usa de todos os truques possíveis, criando uma rede de sedução e de cuidados ao passo que reproduz toda a sua dor e melancolia na fantasia romântica do filme que imagina (o roteiro traz um filme dentro de outro filme). Quando Valentin precisa de ajuda ao sofrer intoxicação alimentar proposital pelos policiais, Molina vê a chance de ter aquilo que quer – o companheiro em sua cama – o que mexe não só com seus próprios sentimentos mas também com os do parceiro. Com a ajuda do diretor do presídio (José Lewgoy) e a pressão de um policial (Milton Gonçalves), o homossexual tenta jogar dos dois lados, exigindo favores da polícia e protegendo ao mesmo tempo sua paixão até conseguir sua liberdade condicional. Ao consegui-la, Valentin, por inocência ou não, o instrui para uma missão: a dúvida passa a ser se Molina terá coragem de executar ou não, já que o destino que se anuncia é trágico como nos filmes românticos que ele imaginava.
William Hurt, embora às vezes pareça caricato, defende muito bem seu personagem, transitando entre o sensível e apaixonado, como alguém que quer defender o seu parceiro, mas também o sofrido, ressentido e magoado. É uma pessoa infeliz por, nas palavras dele, nunca ter encontrado o homem de seus sonhos e ter se apaixonado pelas pessoas erradas – e vê em Valentin o homem que ele sempre desejou, mas nunca teve. Molina é um presente para qualquer ator e um personagem complexo. Demonstra clareza suficiente sobre sua condição de prisioneiro que envergonhou sua própria mãe, tristeza por não se aceitar como homem e sonhar em ser uma mulher (“se eu pudesse eu o cortaria fora”, diz, sobre seus genitais), medo de não conseguir sair dali, medo de abandonar Valentin, mas inteligência para atrai-lo à sua teia e conseguir o que quer tanto dele quanto dos policiais. Igualmente, se mostra ingênuo ao final do filme.
O saudoso Raul Julia, esquecido pelas premiações da época, tem aqui um desempenho excelente, transitando entre o amor e o ódio pelo homossexual enquanto não esquece sua companheira perseguida pela polícia. Sonia Braga incorpora com perfeição os trejeitos de uma mulher sedutora e apaixonada por um homem errado na fantasia, assim como dá vida a Mulher Aranha do título, criada por Molina e a Marta, o amor de Valentin. O filme ainda tem no elenco Milton Gonçalves, Nuno Leal Maia, Herson Capri (como Werner, a paixão de Leni) e outros brasileiros, falando inglês com sotaque carregado.
O filme pode parecer mais longo do que realmente é (todo o filme se passa praticamente dentro da cela com os dois presos) e o final pode não agradar muito para alguém que acabou se envolvendo com os personagens e, de certa forma, torcendo por eles.
Preste atenção: a personagem Lídia. Ela é Ana Braga, irmã de Sonia e mãe da atriz Alice Braga.
PRÊMIOS
OSCAR
Ganhou: Melhor Ator – William Hurt
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor – Hector Babenco e Melhor Roteiro Adaptado
GLOBO DE OURO
Indicações: Melhor Filme – Drama, Melhor Ator – Drama – Raul Julia e William Hurt e Melhor Atriz Coadjuvante – Sônia Braga
INDEPENDENT SPIRIT AWARDS
Ganhou: Prêmio especial
FESTIVAL DE CANNES
Ganhou: Melhor Ator – William Hurt
Após o sucesso do filme, 1993 foi produzido um musical homônimo na Broadway. O espetáculo foi encenado 904 vezes no Teatro Broadhurst a partir de 3 de maio daquele ano. Recebeu quatro prêmios Tony, melhor peça musical, melhor atriz em peça musical (Chita Rivera) melhor roteiro de peça musical e melhor trilha-sonora de peça musical.
CURIOSIDADES DE O BEIJO DA MULHER-ARANHA
O Beijo da Mulher Aranha foi produzido logo após o auge da repressão política na América Latina. Em 1979, de todos os treze países da América do Sul, apenas três – Colômbia, Guiana e Venezuela – não eram governados por uma ditadura militar.
A história do filme traz um exemplo clássico do "filme dentro do filme". O filme, fictício, se chama Her Real Glory (em português: A Verdadeira Glória Dela) e teria sido produzido pela Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
O ator Burt Lancaster, que recebeu um agradecimento especial nos créditos finais. Foi ele quem iniciou o projeto de O Beijo da Mulher-Aranha, na época nome provisório do filme ainda era Molina. Lancaster procurava financiamento para o filme desde 1981, quando Babenco. Lancaster estava interessado em interpretar Molina, mas teve que desistir após sofrer um ataque cardíaco em junho de 1983, aos 70 anos de idade.
Após a saída de Burt Lancaster do projeto, Hector Babenco cogitou rodar o filme com Paulo José e Chico Díaz nos papeis principais. Mas Raul Julia sugeriu o nome de um amigo, o até então pouco conhecido galã de Corpos Ardentes, de 1980, seu filme mais lembrado. William Hurt acabou ficando com o papel e por ele ganhou seu único Oscar em 1985.
Custou menos de 1 milhão de dólares e arrecadou mais de 17 milhões apenas nas bilheterias norte americanas.
AliceBraga não sabia falar inglês na época das filmagens, e todas as suas falas tiveram que ser decoradas foneticamente.
Durante os ensaios, Hurt e Julia tiveram problemas para encontrar a química necessária entre seus personagens. Hurt sugeriu que eles experimentassem trocar de papéis. Os ensaios deram certo e Hurt sugeriu a Babenco que os atores deveriam trocar de papéis nas filmagens do filme também. O diretor não aceitou a troca.
Hurt e Julia teriam trabalhado de graça no filme, recebendo apenas o dinheiro de suas passagens e hospedagem no Brasil.
O Beijo da Mulher Aranha foi produzido logo após o auge da repressão política na América Latina. Em 1979, de todos os treze países da América do Sul, apenas três – Colômbia, Guiana e Venezuela – não eram governados por uma ditadura militar.
A história do filme traz um exemplo clássico do "filme dentro do filme". O filme, fictício, se chama Her Real Glory (em português: A Verdadeira Glória Dela) e teria sido produzido pela Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
O ator Burt Lancaster, que recebeu um agradecimento especial nos créditos finais. Foi ele quem iniciou o projeto de O Beijo da Mulher-Aranha, na época nome provisório do filme ainda era Molina. Lancaster procurava financiamento para o filme desde 1981, quando Babenco. Lancaster estava interessado em interpretar Molina, mas teve que desistir após sofrer um ataque cardíaco em junho de 1983, aos 70 anos de idade.
Após a saída de Burt Lancaster do projeto, Hector Babenco cogitou rodar o filme com Paulo José e Chico Díaz nos papeis principais. Mas Raul Julia sugeriu o nome de um amigo, o até então pouco conhecido galã de Corpos Ardentes, de 1980, seu filme mais lembrado. William Hurt acabou ficando com o papel e por ele ganhou seu único Oscar em 1985.
Custou menos de 1 milhão de dólares e arrecadou mais de 17 milhões apenas nas bilheterias norte americanas.
AliceBraga não sabia falar inglês na época das filmagens, e todas as suas falas tiveram que ser decoradas foneticamente.
Durante os ensaios, Hurt e Julia tiveram problemas para encontrar a química necessária entre seus personagens. Hurt sugeriu que eles experimentassem trocar de papéis. Os ensaios deram certo e Hurt sugeriu a Babenco que os atores deveriam trocar de papéis nas filmagens do filme também. O diretor não aceitou a troca.
Hurt e Julia teriam trabalhado de graça no filme, recebendo apenas o dinheiro de suas passagens e hospedagem no Brasil.
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