Este livro apresenta um cruzamento muito profícuo entre DIREITO, LITERATURA, PSICANÁLISE E OS ESTUDOS CULTURAIS, uma aposta bem sucedida para importantes reflexões multidisciplinares. Como pensar a relação entre Direito, Trauma e Justiça? Grandes julgamentos históricos, como o famoso julgamento de O. J. Simpson nos Estados Unidos e, no plano internacional, o julgamento Eichmann e os tribunais de Nuremberg surgem para pontuar esse instigante desafio teórico lançado por Felman. Como a experiência traumática da perseguição antissemita e do holocausto podem ajudar a refletir a relação entre direito e trauma e, por que, ainda nos dias de hoje, negros, mulheres, índios e demais grupos sociais excluídos têm preconceitos afirmados, reproduzidos e aprofundados no âmbito das cortes judiciais? A literatura permite pensar essa questão de uma maneira crítica e reveladora, e este livro abre o caminho para importantes reflexões multidisciplinares. Além disso, olhando para as bases conceituais da autora: entre outros Hannah Arendt, Walter Benjamin, Freud, Levinas... e, por outro lado, para os grandes nomes da literatura com os quais dialoga, Tolstoi, Zola, Kafka... não é de espantar que o resultado desses encontros seja muito entusiasmante e extremamente criativo.
Felman nos lança, com esta obra, uma série de questões que atingem o âmago da instituição jurídica. Assim como Freud abalou nossa identidade e visão do que é o ser humano, ao revelar o inconsciente psicológico, ao apontar para o inconsciente jurídico, também Felman, reconfigura o direito e seus limites.
“Shoshana Felman é, sem dúvida, uma das críticas e teóricas da literatura mais influentes no panorama atual. Sua obra vem inspirando diversos autores e apontando para novas abordagens da literatura e da cultura de um modo geral, nas quais ela faz convergir seu erudito saber literário e filológico com seu competente domínio da psicanálise, dialogando ainda, como vemos aqui, de modo muito competente, com os estudos jurídicos. Assim, desde o início dos anos 1990, ela foi, ao lado de Cathy Caruth, uma das principais responsáveis pelo estabelecimento dos “Estudos de trauma”, que até hoje têm multiplicado de modo muito criativo a leitura e a interpretação de fenômenos culturais, sobretudo a partir do processo histórico, violento e catastrófico, que culminou nas grandes guerras do século XX e se estende até nossos dias.”
Márcio Seligmann-Silva
Sobre o autor:
Shoshana Felman é uma eminente crítica literária, internacionalmente reconhecida pelo seu trabalho original e interdisciplinar. Professora de Literatura Comparada e de Literatura Francesa na Emory University, com doutorado pela Universidade de Grenoble (França), 1970, foi professora em Yale entre 1970 e 2004, tendo recebido aí a prestigiada cátedra Thomas E. Donnelly de Literatura Francesa e Comparada. Entre seus grandes temas de pesquisa destacam-se: literatura inglesa e francesa dos séculos XIX e XX, literatura e psicanálise, trauma e testemunho, e literatura e Direito. Suas obras mais conhecidas são: The claims of literature: a Shoshana Felman reader (editado por Eyal Peretz, Ulrich Baer e Emily Sun) (2007); What does a woman want? Reading and sexual difference (1993); Testimony: crises of witnessing in Literature Psychoanalysis and History (em co-autoria com Dori Laub, M.D.) (1992); Jacques Lacan and the adventure of insight: Psychoanalysis in contemporary culture (1987); Editor, Literature and Psychoanalysis: the question of reading-otherwise (1982); The scandal of the speaking body: Don Juan with Austin, or Seduction in two languages (2002); Le scandale du corps parlant. Don Juan avec Austin, ou la Séduction en deux langues (1980); Writing and Madness: Literature/Philosophy/Psychoanalysis (2003); La Folie et la chose littéraire (1978); La “Folie” dans l’œuvre romanesque de Stendhal (1971). O inconsciente jurídico: julgamentos e traumas no século XX constitui uma obra na qual a autora desenvolve com maestria uma nova abordagem da relação entre Direito, Psicanálise e Literatura.
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