quinta-feira, 23 de janeiro de 2014


Em O chapéu de Vermeer, Timothy Brook elabora um interessante ensaio sobre alguns quadros do artista, que superficialmente parecem reproduzir um ambiente íntimo e familiar, mas são, na verdade, o ponto de partida para o entendimento de um mundo em rápida expansão.
Com base nos elementos encontrados nas pinturas do famoso pintor holandês, o historiador canadense delineia as rotas de comércio em rápida ascensão capazes de levar uma pele de castor, um tapete turco ou uma porcelana chinesa a uma sala de estar em Delft, cidade natal do artista.
“Neste livro, vamos contemplar cinco quadros de Vermeer e mais uma tela de Hendrik van der Burch, seu contemporâneo de Delft, e a decoração de um prato de porcelana fabricado na cidade em busca de sinais da vida local. Escolhi essas sete telas não só pelo que mostram, como também pelas pistas de forças históricas mais amplas que se escondem em seus detalhes”, explica Brook.
O autor mostra como a ligação entre os elementos das pinturas revelam um mundo em um rápido processo de integração, já no século XVII. O chapéu do galante oficial, em Oficial e moça sorridente, é feito de pelo de castor, que os exploradores europeus obtinham com os indígenas norte-americanos em troca de armas. Por sua vez, as peles de castor financiaram as viagens dos marinheiros que buscavam novas rotas para a China. Ali, com prata extraída no Peru, os europeus comprariam, aos milhares, as peças de porcelana tantas vezes mostradas nas pinturas holandesas da época.
Os ancoradouros da Holanda, como escreveu um visitante francês, eram “um inventário do possível”. O chapéu de Vermeer mostra com detalhes a riqueza desse inventário e como a ânsia de adquirir tais objetos reformulava o mundo. Timothy Brook surpreende ao apresentar essa nova leitura dos quadros do pintor holandês e da época que retratam.

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