quarta-feira, 23 de outubro de 2013


Romeu e Julieta na Aldeia Poucas vezes a literatura deu forma tão clara e concentrada à paixão luminosa entre duas pessoas ao mesmo tempo em que, com precisão insuperável, expôs as iniquidades da moral burguesa, fundada na propriedade e na exclusão do outro. Inspirado em um acontecimento verídico ocorrido em 1847 no interior da Alemanha, o escritor suíço Gottfried Keller (1819-1890) escreveu, sete anos depois, Romeu e Julieta na aldeia - incluído originalmente no ciclo de contos A gente de Seldvila, publicado pela primeira vez em 1856 e tido por Nietzsche como um "tesouro da prosa alemã". Ao atualizar a tragédia de Shakespeare e enraizá-la numa aldeia suíça, Keller criou uma obra de ressonância universal, considerada por Lukács e Benjamin, entre outros, um dos exemplos mais perfeitos do gênero literário novela. Com mestria narrativa, andamento musical e um estilo primoroso, capaz de alcançar na prosa um poder de síntese e sugestão só equiparável ao da grande poesia, Keller descreve todas as etapas do envolvimento amoroso - a graça lúdica inicial, o reconhecimento mútuo dos afetos, a entrega simultaneamente lírica e sensual, até o arrebatamento dos sentidos e o pacto de honra que, neste livro, sela o destino dos dois jovens.

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