quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Numa linguagem direta e simples, permeada por uma bibliografia que nada deixa a desejar, Constantino atravessa o “menu caviar” de nossa era vaidosa.


Segue a orelha de Esquerda Caviar, escrita pelo filósofo Luiz Felipe Pondé. O livro será lançado no final de outubro nas principais capitais (em breve divulgo as datas certas). Fiquei muito honrado com essa apresentação feita por Pondé, quem muito admiro.

Este livro de Rodrigo Constantino é urgente. Uma pérola em meio ao mar de obviedades e mentiras comuns na literatura “intelectual” nacional. O título “Esquerda caviar” remete a uma expressão de nossos irmãos mais velhos portugueses para descrever a “esquerda festiva” (como dizia o grande Nelson Rodrigues, citado algumas vezes por Constantino), marca de um grande desvio de caráter no mundo contemporâneo: este tipo de gente que frequenta jantares inteligentes defendendo a África enquanto bebe vinho caro e humilha amigas menos magras.


Nelson Rodrigues usava a expressão “amante espiritual de Che Guevara” para nomear a esposa de um casal burguês com “afetações revolucionárias”, o típico “casal caviar”. Em meio às festas da “festiva”, o casal de grã-finos, donos da casa, levava Nelson até o pequeno altar onde uma foto de Che posava para os suspiros da esposa apaixonada pelo revolucionário. Poderíamos supor que este marido falaria algo semelhante ao que outros “maridos caviar” ante as possíveis infidelidades das esposas com outro “guru caviar”, Chico Buarque: “Com o Che e o Chico, eu deixo ela me trair.” Risadas?


De onde vem este fenômeno? Constantino lança mão de um rico arsenal de citações clássicas e contemporâneas para fazer seu diagnóstico: antes de tudo, estamos diante do velho problema de caráter. Nada de questões políticas. Apenas questões morais de fundo: mentira, hipocrisia, luta por autoestima social, narcisismo, oportunismo carreirista, tentativa de se ver como pessoa pura de coração, enfim, uma fogueira de vaidades. Como dizia outro autor que é referência importante para esta obra, o filósofo britânico Edmund Burke, do século XVIII: antes de qualquer problema político, existe um drama moral.




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