quarta-feira, 17 de julho de 2013

Conheça a história da máscara do V de Vingança utilizada nas manifestações

Desde o início dos protestos, as lojas da cidade aumentaram a venda das máscaras de Guy Fawkes em mais de 90%. Símbolo da revolta contra o governo e também da anonimato, o objeto sumiu das lojas nesta última semana. Em Florianópolis ela não existe mais, e o fornecedor disse que o estoque também acabou. Na loja em que trabalha Luiz Philippi, mais de 300 Guy Fawkes foram vendidas, esgotando o estoque. Agora as opções para as manifestações são as máscaras sem expressão (totalmente brancas) e as do Jason:

— Até desenhei uns bigodes nas máscaras sem expressão para ficar igual às do anônimo — conta Philippi.

"Anônimo" (ou Anonymous) é o nome mais comum por quem quer pedir a máscara nas lojas. Essa denominação caiu nas graças do povo por conta de grupos na internet que fazem dessa máscara um símbolo de ativismo virtual contra a corrupção. Mas a história por trás dessa máscara vai além.
Desenhada pelo ilustrador David Lloyd, o objeto faz parte história em quadrinhos "V de Vingança", onde V (representado pela máscara que usa as feições de Guy Fawkes) é um conspirador que pretende explodir o parlamento inglês. Ou seja, usar a máscara e ser contra a violência, é um contrassenso. V se considera um vilão, mas representa todos os injustiçados oprimidos por um governo fascista. Ele tem ideais anarquistas, onde não existe governo algum.

Quem foi Guy Fawkes?
Guy Fawkes foi um conspirador que pretendia restaurar o poder da Igreja Católica na Inglaterra, no ano de 1605. Ele fazia parte de um grupo que queria matar o rei protestante Jaime I e todos os parlamentares ingleses explodindo o parlamento britânico (assim como o personagem V, dos quadrinhos). A intenção era colocar 36 barris de pólvora no subsolo do prédio. Fawkes foi pego cuidando do material e foi o primeiro dos conspiradores presos. O caso, conhecido como "conspiração da pólvora" gerou uma manifestação folclórica no país. Até hoje a Inglaterra é um país protestante e no dia 5 de novembro bonecos de Fawkes são queimados e agredidos em praça pública (algo similar à Malhação de Judas, na Semana Santa).
Preso, torturado e condenado à morte, Guy Fawkes teve os testículos e o coração arrancados, e acabou decapitado e com o corpo não só esquartejado como exposto em praça pública para apodrecer e servir de alimento aos corvos. Tudo porque ele era católico na Inglaterra (país de maioria anglicana) e decidiu participar de um complô para explodir o Parlamento, matar o rei, sequestrar sua filha e liderar uma insurreição popular.
Tudo começou quando a rainha Elizabeth 1ª mandou eliminar Mary Stuart (a primeira na linha de sucessão) porque ela era católica. Com a morte da soberana, em 1603, Jaime 1º assumiu o posto e todos acreditaram que a situação dos não-anglicanos ia melhorar. Mas o rei, bissexual e extravagante, se mostrou um fraco e, acuado por puritanos, aumentou ainda mais a perseguição religiosa.


Um grupo de católicos influentes armou um complô para matá-lo. O chefe da operação? Um soldado e aventureiro procurado por toda a Europa por causa de duelos, roubos e assassinatos políticos: Guy Fawkes. A primeira reunião dos conspiradores ocorreu em 1604, na taverna Duck and Drake. O plano era simples: Fawkes cuidaria de colocar 36 barris de pólvora sob o Parlamento, enquanto parceiros fariam um levante no norte da ilha e seqüestrariam a princesa, para convertê-la ao catolicismo. Mas havia um dedo-duro no bando e, na noite de 5 de novembro de 1605, data escolhida para o atentado, o serviço secreto inglês já sabia de tudo.
Não foi do jeito que ele imaginava, mas Fawkes entrou para a história. Exatamente um ano depois do ataque fracassado, centenas de fogueiras foram acesas nas ruas de Londres em protesto contra o rei. Mais tarde, o 5 de novembro virou feriado nacional. Nos anos 70, o anti-herói virou ídolo dos punks, que pichavam seu nome nos muros. E em 1982 o roteirista Alan Moore e o desenhista David Lloyd criam a graphic novel V for Vendetta, cujo herói – um vingador mascarado, vítima de experiências genéticas – luta contra um estado totalitário. Finalmente, em 2002, uma pesquisa realizada pela BBC mostrou que ele era a 30ª personalidade inglesa mais lembrada. Fawkes vive.

Uma poderosa e aterradora história sobre perda de liberdade e cidadania, em um mundo bem possível, V DE VINGANÇA permanece como uma das maiores obras dos quadrinhos e o trabalho que revelou ao mundo seus criadores, ALAN MOORE e DAVID LLOYD.
Encenada em uma Inglaterra de um futuro imaginário que se entregou ao fascismo, esta arrebatadora história captura a natureza sufocante da vida em um estado policial autoritário e a força redentora do espírito humano que se rebela contra essa situação. Obra de surpreendente clareza e inteligência, V DE VINGANÇA traz inigualável profundidade de caracterizações e verossimilhança a este audacioso conto de opressão e resistência.

“LEMBREM, LEMBREM O CINCO DE NOVEMBRO…”
 Parece um pouco estranho começar uma série de comentários sobre clássicos com um filme como “V de Vingança” um filme relativamente novo (de 2006) que não teve uma grande aceitação pela crítica, mas que conquistou uma enorme legião de fãs entre os seus espectadores, e cuja máscara símbolo vêm ganhando as ruas em todos os protestos que ecoam ao redor do mundo, o que já serve para começar a explicar o porquê desse filme, baseado numa história em quadrinhos estar aqui.
O filme mistura duas situações distintas, a busca por vingança e a busca pela liberdade ou pela democracia. Se por um lado o filme não acrescenta tanta coisa além de uma bela trilha sonora de Tchaikovsky e Tom Jobim e do toque romântico das rosas dadas às vítimas antes da morte, pelo outro, o filme exala revolução no sentido atribuído ao termo por Sieyès ao legitimar a invocação do poder pelo povo.“V de Vingança” não é o melhor filme já feito, não tem a melhor história, melhores atores ou melhores efeitos, mas tem um enorme potencial de se tornar um clássico do cinema, que cresce à medida que a instabilidade política, o abuso de poder e a crise se colocam como uma realidade imposta a uma sociedade que ainda sonha, no fundo, em tornar o mundo um lugar melhor seguindo a lógica descrita por Gregório de Matos de tornar as partes anônimas, o todo.                                     

  

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